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Série "O Mecanismo" e as eleigoes presidenciais no Brasil de 2018: ficgao como instrumento de manipulado da opiniao pública
"The Mechanism" series and the 2018'presidential elections in Brazil: fiction as an instrument
for manipulating public opinion
Marlon Dai Pra* Janaína Rigo Santin**
Resumo: Este artigo, a partir do método de estudo de caso e abordagem qualitativa, analisará o caso da série O Mecanismo, produzida e distribuida pela Netflix no Brasil, cuja primeira temporada foi lanzada mundialmente no dia 23 de margo de 2018. Trata-se de uma obra de ficgao criada com base em eventos reais, mas que, no entanto, apresenta uma narrativa questionável, especialmente no momento político em que surgiu. Assim, problematiza-se o contexto no qual a série foi langada, ano das eleigoes presidenciais brasileiras, e seu potencial de influencia nas escolhas eleitorais naquele período.
Palavras chave: Opiniao Pública. Novas Tecnologías de Informagao e Comunicagao. Netflix. Operagao Lava Jato.
Abstract: This paper, using the case study method and qualitative approach, studies the series The Mechanism, produced and distributed by Netflix, whose first season was launched worldwide on March 23, 2018, will be analyzed. It's a fiction created from real events, but which nevertheless presents a questionable narrative, especially in the political moment in which it emerged. Thus, the context in which the series was launched, the year of the Brazilian presidential elections, and its potential to influence electoral choices in that period are questioned.
Keywords: Public Opinion. Technologies Information and Communication. Netflix. The Lava-Jato Operation
Recibido: 15 agosto 2020 Aceptado: 3 enero 2021
* Brasileiro. Coautor. Mestre em Comunicado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil. MBA em Marketing pela ESPM, Brasil. Publicitario, graduado pela Universidade de Passo Fundo. Bolsista PIBIC/UPF. E-mail: daipra@protonmail.com. ORCID: https: //orcid.org/0000-0002-8327-8141.
** Brasileira. Coautora. Pós Doutora em Direito pela Universidade de Lisboa, Portugal. Doutora em Direito pela Universidade Federal do Paraná, Brasil. Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. Advogada. Professora do Mestrado em Direito da Universidade de Passo Fundo. Professora do Doutorado em História da Universidade de Passo Fundo. Colaboradora do Mestrado e Doutorado em Direito Ambiental da Universidade de Caxias do Sul. E-mail: janainars@upf.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6547-2752.
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1. Introdujo
Em um cenário permeado por inúmeras plataformas de produgao e compartilhamento de conteúdo, a quantidade de informagao aumenta gradativamente na vida das pessoas. Neste contexto, torna-se imprescindível saber filtrar o que é verdadeiro e o que é falso, especialmente em termos de noticias que, muitas vezes, tem o propósito de distorcer fatos e opinioes e nao de informar efetivamente. Mas se engana quem pensa que tal prática se restringe exclusivamente a "enxurrada" de fake news que prolifera em progressao geométrica nas redes sociais, disseminadas sem que haja o mínimo questionamento por parte de quem as compartilha em seus perfis no Facebook, Instagram ou grupos no WhatsApp. Materiais de cunho duvidoso também se manifestam através de diferentes canais de entretenimento, como filmes, séries e programas de TV que, por trás das histórias que prendem o público, buscam, acima de tudo, difundir os ideais de quem as financia. Essa realidade já era algo muito presente em programas sensacionalistas da TV aberta, nos quais alguns discursos de ódio sao enaltecidos, de modo a multiplicar e legitimar este tipo de ideologia diante da desinformagao dos telespectadores. Mas neste século XXI, em especial em face a pandemia do Coronavírus, onde medidas de isolamento social fizeram com que todos tivessem que ficar em suas casas por um longo período de tempo, nunca houve tanto consumo de informagao e entretenimento por meios eletrónicos, tanto por meio da TV aberta, canais de TV por assinatura, redes sociais, programas de internet e, principalmente, plataformas de distribuigao audiovisual via "streamings"
Neste sentido, observa-se o caso envolvendo a série "O Mecanismo"1, exibida pela Netflix2, cuja primeira temporada foi langada mundialmente no dia 23 de margo de 2018. A série, que conta com oito episódios em sua temporada inicial, gerou uma discussao amplamente difundida no Brasil, especialmente no meio digital. E nesse sentido, pode-se afirmar que as redes sociais vem sendo palco de muitos debates contemporáneos acerca de diversos assuntos, nas quais as pessoas manifestam diferentes pontos de vista. E nesse sentido nunca o fenómeno político foi tao debatido, verificando-se as opinioes dos participantes em sua grande de maneira extremista, divididas entre direita e esquerda, e pautadas em temas específicos como, por exemplo, a questao da corrupgao.
1 Série criada por José Padilha e Elena Soarez, inspirada na operaçao Lava Jato no Brasil, considerada pelos órgaos de controle brasileiros como "a maior iniciativa de combate a corrupçao e lavagem de dinheiro da história do Brasil". Ministério Público Federal, "Grandes Casos. Caso Lava Jato". Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/lava-jato>. Acesso em:
02 ago. 2020.
2 Plataforma de distribuiçao de audiovisual via streaming (de forma instantánea através da internet). Importa ressaltar que "enquanto o número de assinantes de TV a cabo nos Estados Unidos vem diminuindo — numa média de um milhao a cada ano — os números dos serviços de video on demand (VOD) só aumentam. Em meados do ano passado, o Hulu Plus alcançou a marca de dois milhoes de assinantes, enquanto o Netflix, maior e mais internacionalizado desses serviços, já alcançou quase 30 milhoes de assinantes, dos quais 25 milhoes estao nos Estados Unidos, e o restante nos demais países onde o serviço é oferecido, incluindo o Brasil. Boa parte do que é disponibilizado para streaming nesses serviços sao programas de televisao — a outra parte, obviamente, é de filmes —, e nao apenas séries, mas também programas esportivos, reality shows, documentários, programas infantis e de entrevista. O cenário atual, portanto, é de ampliaçao das formas de produçao e consume audiovisual, e embora a TV ainda esteja consolidada no modelo tecnológico de transmissao de sinal, o que implica uma experiencia dominantemente nacional e em fluxo, o que chamamos aqui de cultura das séries é resultado dessas novas dinámicas espectatoriais em torno das séries de televisao, destacadamente, as de matriz norte-americana." Juremir Machado da Silva, "O mecanismo, artefato ideológico", Correio do Povo, Porto Alegre, 242-243, 27 mar. 2018. Disponível em: <http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2018/03/10757/o-mecanismo-artefato-ideologico/>. Acesso em: 03 de abril 2018.
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Desta forma, cabe aqui analisar a série "O Mecanismo", sem apontar o seu discurso com uma visao maniqueísta, mas especificamente, abordando o caso em questao de modo a tornar mais transparente o poder da mídia no processo de formagao da opiniao pública, em especial nas eleigoes presidenciais de 2018 no Brasil. Tenciona-se problematizar a maneira com a qual um produto audiovisual como o aqui estudado pode influenciar na opiniao pública? Para nortear este processo será utilizado o método de estudo de caso, abordado por Robert Yin3 como uma análise que "investiga um fenómeno contemporáneo dentro de seu contexto da vida real", trazendo a série para o centro da discussao juntamente com a sua repercussao em um período bastante tumultuado para a historia do Brasil.
Para conduzir a análise de modo mais objetivo, o texto será dividido em diferentes momentos, os quais tem a finalidade de tornar mais transparentes alguns pontos que, as vezes, nao sao facilmente percebidos pelo público em geral. Se partirá de uma breve análise da mídia de massa, passando pela internet e o poder da interatividade para, após, estudar como se dá o consumo de informagao nos moldes atuais, abordando a Netflix como produtora e distribuidora de produtos audiovisuais. Ao final, tenciona-se analisar a série em questao, de modo a situar o leitor em meio a um debate mais amplo, que diz respeito ao consumo midiático em forma de informagao e entretenimento e a maneira como tais conteúdos podem moldar opinioes de acordo com os interesses de quem financia a sua produgao. As consideragoes finais mostram como os elementos observados ao longo da pesquisa podem interferir na formagao da opiniao pública e a maneira com a qual isso deve ser ponderado.
2. A Mídia de Massa no Contexto Contemporáneo
A presenga da mídia na vida das pessoas nao é algo recente. Observa-se, ao longo da historia, a relagao do público com diferentes tipos de conteúdo e em diferentes suportes, de acordo com os recursos de cada período. O grande avango nesta área se deu com o advento da prensa tipográfica de Gutenberg, a qual permitiu a produgao e reprodugao de material impresso. Com o passar do tempo, além da mídia impressa (livros, jornais, revistas), novas plataformas deram vida a novas possibilidades de difusao de conhecimento, informagao e entretenimento, como o rádio e o cinema, seguidos pela TV (e com ela o vídeo e demais meios que transformaram o consumo de audiovisual, seja pelos canais de TV por assinatura ou pelo aluguel de filmes em VHS, DVD e Blue Ray). No entanto, em meio a essa evolugao dos recursos midiáticos em seus suportes iniciais e o surgimento de novas linguagens e estéticas, a internet caminhava rumo a um patamar mais elevado, mostrando-se pouco a pouco uma plataforma multimidiática capaz de abrigar conteúdos característicos de todos os meios anteriores (como textos, fotografías, informagao, músicas, filmes, etc.) e ainda conteúdos híbridos,4 que apresentam características de outros meios mas se fundem neste novo espago virtual e tem suas particularidades.
Diferentemente do que se imaginava ao utilizar a internet na década de 1990, hoje a diversidade de conteúdo e fungoes atribuídas a este universo aumentam constantemente a medida em que novos recursos sao criados. Muito além de enviar e receber mensagens, a internet pode ser encarada como algo muito maior do que uma simples plataforma de comunicagao, e sim, de acordo com Pierre Lévy,5 como um novo espago público. Neste contexto, destaca-se a possibilidade de haver
3 Robert K. Yin, Estudo de caso: planejamento e métodos, Porto Alegre, Bookman, 2001, p. 32.
4 Lev Manovich, Software takes command, USA, Bloomsburry Academic, 2013.
5 Pierre Lévy, Ciberdemocracia, Lisboa, Editions Odile Jacob, 2002, p. 29.
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neste meio, além de um conjunto de características particulares a outros meios, uma linguagem e uma lógica própria. Trata-se de um novo espaço público plural, diversificado, aberto, dinámico, complexo e multifacetado, o qual é capaz de democratizar o acesso a estes recursos, dando vez, voz e novas ferramentas ao público que até pouco tempo estava restrito apenas a um comportamento passivo frente aos veículos de comunicaçâo, ou seja, receber noticias ou entretenimento, mas, de regra, nao participar ativamente deste processo.
Em meio à evoluçâo da mídia e ao uso das novas tecnologías de comunicaçâo e informaçâo, percebe-se que a forma como a informaçâo e o entretenimento sao encarados por quem os consome muda de forma considerável na contemporaneidade. A audiencia nâo mais se limita a receber aquilo que lhe é imposto pelos grandes veículos de massa, mas passa a poder escolher e montar sua própria programaçâo. Para Henry Jenkins,6 "o público, que ganhou poder com as novas tecnologias e vem ocupando um espaço na intersecçâo entre os velhos e os novos meios de comunicaçâo, está exigindo direito de participar intimamente da cultura". Ou seja, através da internet o público abandona o papel de mero espectador e passa a ocupar um espaço central e ativo no processo, e isso muda de forma drástica a relaçâo de produçâo e consumo de mídia. Diante deste contexto, conforme observa Manuel Castells, "Como a cultura é mediada e determinada pela comunicaçâo, as próprias culturas, isto é, nossos sistemas de crenças e códigos históricamente produzidos sao transformados de maneira fundamental pelo novo sistema tecnológico e serâo ainda mais com o passar do tempo."7
Observa-se, assim, que as mudanças sâo constantes, e os moldes do que se tem hoje sobre tecnologias de informaçâo e comunicaçâo será diferente em um futuro próximo, assim como se forem comparados os recursos contemporáneos com aqueles que estavam disponíveis há menos de uma década. Aquilo que até pouco tempo estava restrito a algumas pessoas, como o simples uso de um aparelho celular, hoje se torna acessível a uma parcela crescente da populaçâo8.
No que diz respeito ao acesso aos mais diversos meios de comunicaçâo, informaçâo e mass media, sem mencionar os canais abertos, cabe aqui ressaltar que os custos para manter uma TV por assinatura, por exemplo, sâo relativamente altos. No entanto, a internet oferece outras opçoes, as quais, por um custo mensal mais baixo ou por vezes até gratuito, permitem que o usuário tenha acesso a muitas fontes de informaçâo e entretenimento. Assim, para mudar este contexto e manter o acesso a material de qualidade por preços justos, os serviços de streaming mostram-se como alternativa bastante conveniente. Segundo Joâo Martins Ladera,
Os serviços de streaming pela internet bem poderiam ser compreendidos como uma alternativa em choque com negócios já estabelecidos de audiovisual, especialmente os empreendimentos de TV por assinatura. Porém, a sequência de acordos entre redes, produtoras e distribuidoras de filmes e
6 Henry Jenkins, Cultura da convergencia, Sao Paulo, Aleph, 2009, p. 53.
7 Manuel Castells, Sociedade em rede, Sao Paulo, Paz e Terra, 2010, p. 414.
8 Dados do IBGE de 2018 revelam que, no Brasil, "a parcela das residencias em que havia aparelho celular alcançou 93,2%. Da populaçao com 10 anos ou mais de idade, 79,3% tinha telefone móvel celular para uso pessoal." Quanto ao uso da internet, em 2018 os dados revelam que "a Internet era utilizada em 79,1% dos domicilios brasileiros. Um crescimento considerável, se comparado ao ano de 2017 (74,9%)." Quanto aos objetivos do uso da internet pelos brasileiros, "o envio e recebimento de mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos (nao e-mail) continua sendo o principal, indicada por 95,7% das pessoas com 10 anos ou mais de idade que utilizaram a rede. Conversar por chamadas de voz ou vídeo foi apontada por 88,1% dessas pessoas; vindo logo em seguida, assistir a videos, inclusive programas, séries e filmes (86,1%); e, por último, enviar ou receber e-mail (63,2%)." Instituto Brasileiro de Geografía e Estatística, "IBGE Educa: uso de internet, televisao e celular no Brasil". 2018. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/criancas/brasil/2697-ie-ibge-educa/jovens/materias-especiais/20787-uso-de-internet-televisao-e-celular-no-brasil.html. Acesso em 2 ago. 2020.
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séries torna difícil aceitar esta interpretaçao. Outra leitura apresenta o streaming como uma forma de criar novos elementos na cadeia que compôe o ciclo de produtos do setor audiovisual.9
Empresas e serviços como Apple TV e Netflix, por exemplo, oferecem conteúdo audiovisual aos seus assinantes, os quais pagam mensalidades para desfrutar de conteúdo de boa qualidade (com áudio e vídeo em alta defïniçâo), de forma legal e gerando lucro aos estúdios envolvidos. Estas possibilidades vao, aos poucos, mudando a relaçao das pessoas com aquilo que consomem na internet. Torna-se mais cómodo e vantajoso para o usuário assistir seus filmes e séries preferidas em alta definiçao a um baixo custo, além de se evitar o download ilegal ou a pirataria. Tais recursos podem, inclusive, ser baixados pelo espectador para assistir mesmo na ausência de conexao com a internet, por um preço bastante acessível.
Neste contexto, a emergência de conteúdo é bastante notável, pois além de distribuir o que é produzido por estúdios já consagrados, a Netflix, veio para substituir as antigas locadoras de filmes, tornando-se uma referência no que se refere ao streaming e também produzindo seus próprios filmes e séries originais, os quais sao lançados com exclusividade em sua plataforma. Com características diferentes do conteúdo apresentado pelas redes sociais, pelos canais de assinatura e pela televisao propriamente dita, a Netflix tem uma postura diferenciada,
Ao contrário do Facebook e do Google, a Netflix evitou as notícias e se ateve principalmente ao entretenimento. Isso a protegeu de escándalos sobre fake news, manipulaçao eleitoral e tribalismo político. E, ao contrário dessas duas plataformas baseadas em anúncios, seu modelo de negócios baseado em assinantes significa que a empresa nao depende da venda de dados ou da atençao dos usuários para outras empresas. Em vez disso, oferece aos clientes uma troca simples: uma taxa mensal em troca do conteúdo que eles querem assistir.10
A empresa, que no terceiro trimestre de 2018 passou dos 137 milhôes de usuários,11 nao pode ter o seu poder subestimado. Com grandes vantagens em relaçao a outras plataformas, a Netflix se destaca crescentemente por uma série de fatores. Nela o assinante escolhe o que irá assistir, o momento que irá assistir e nao é interrompido em nenhum instante por anúncios publicitários. Observa-se ainda, que a empresa utiliza os dados dos usuários como suas preferências por determinados estilos de filmes, os títulos que já foram vistos, os títulos que desejam assistir e, através de um algoritmo, sugere novos itens disponíveis no seu catálogo de forma bastante considerável. No entanto, há algo ainda mais relevante no que diz respeito a sugestôes de conteúdo, que sao feitas por pessoas próximas aos usuários ou influenciadores em canais específicos que tratam sobre audiovisual, o que dá ainda mais credibilidade ao conteúdo que será visto. E, com relaçao ao conteúdo, cabe observar que quando se trata de uma cultura popular, os moldes em que os produtos sao produzidos sao muito
9 Joao Martins Ladera. "Negócios de audiovisual na internet: uma comparaqäo entre Netflix, Hulu e iTunes-AppleTV, 200S-2010", Revista Contracampo, 26:1, Niterói, 2013, 1S8. DOI: https://doi.org/10.22409/contracampo.v0i26.247
10 The Economist, "Can Netflix please investors and still avoid the techlash?" Disponível em: <https://www.economist.com/leaders/2018/06/28/can-netffix-please-investors-and-still-avoid-the-techlash>. Acesso em: 28 jun. 2018.
11 Statista, "Number of Netflix streaming subscribers worldwide from 3rd quarter 2011 to 3rd quarter 2018 (in millions)" Disponível em:
<https://www.statista.com/statistics/2S0934/quarterly-number-of-netflix-streaming-subscribers-worldwide/>. Acesso em 14 dez. 2018.
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importantes para que sejam bem recebidos por parte do público, que se sente mais próximo da realidade que consome do que da qual, de fato, se insere, de acordo com Joke Hermes:
Para a maioria de nós, produtos culturais populares (séries de televisao, thrillers, revistas, música pop) sao muito mais reais do que a política nacional. Na vida cotidiana, nossos laços e sentimentos de pertencimento frequentemente se relacionam mais fácil e diretamente com a cultura popular (global) do que com questoes de governança nacional ou local.12
Sendo assim, quando algo que está nos noticiários locais se torna o centro do debate, e passa a ser apresentado em um produto audiovisual produzido e distribuído por um canal de streaming em alcance internacional, o conteúdo ali mostrado torna-se mais interessante aos olhos da maioria do que os fatos em si. Neste contexto, a seguir será analisada a série "O Mecanismo", e o seu enredo ficcional permeado por pequenos traços de realidade da Operaçao Lava Jato13, presentes no meio jornalístico, os quais conferem ao espectador "desatento" a ideia de que está sendo informado da mesma forma, em ambos os lados.
3. A série "O Mecanismo"
Veja-se: "Este programa é uma obra de ficçao inspirada livremente em eventos reais. Personagens, situaçoes e outros elementos foram adaptados para efeito dramático."14 É assim, após a vinheta da Netflix e com pequenas letras brancas em uma tela preta, que começa cada um dos oito episódios da primeira temporada de "O Mecanismo". Ao avisar o espectador sobre a semelhança do que será exibido dali em diante com a temática e os fatos reais exibidos nos telejornais brasileiros da época, os produtores tentam se isentar da responsabilidade referente àquilo que é retratado na série. Desta forma, cria-se a ideia de que tudo o que for ali mostrado está protegido sob este escudo da ficçao e, consequentemente, livre de quaisquer irregularidades.
No entanto, é importante lembrar que a linha que separa realidade de ficçao, neste caso, diante de muitos espectadores que nao sao capazes de discernir entre o que é fato e o que é recurso dramático, é muito tenue. Nem todos os espectadores têm ciencia dos fatos ali representados para conseguir separar os eventos reais daquilo que foi adaptado para efeito dramático, o que faz com que boa parte do público acredite no discurso da série, que é inspirada na Operaçao Lava Jato, "a maior
12 Joke Hermes, Re-reading popular culture, Malden, Blackwell, 2005, p. 1.
13 "No inicio do ano de 2014, um esquema de corrup^ao veio a tona no Brasil quando uma for^a-tarefa, a Lava-Jato, foi instituida pela Justina Federal de Curitiba para investigar quatro organizares criminosas lideradas por doleiros, descobrindo um esquema de corrup^ao em curso há mais de 10 anos, envolvendo a Petrobras. [...] Segundo balando divulgado pelo Ministerio Público Federal, atualizado no dia 07 de novembro de 2016, os números da opera^ao após 37 fases da opera^ao apontam, em primeira instancia, para: 70 acordos de dela^ao premiada com pessoas físicas, seis acordos de leniéncia firmados e um termo de ajustamento de conduta, pedidos de ressarcimento (incluindo multas) no valor total de R$38,1 bilhóes, recuperado (através de acordos e bens bloqueados) de R$3,1 bilhóes dos R$6,4 bilhóes pagos em propinas, e 118 condenares, contabilizando até o momento 1256 anos, 6 meses e 1 dia de pena." Túlio Gon^alves Gomes e Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros, "Construindo e desconstruindo escándalos de corrup^ao: a opera^ao Lava-Jato nas interpretares da Veja e Carta Capital", Organizares & Sociedade, 90:26, Salvador, set. 2019, 457-485. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-92302019000300457&lng=en&nrm=iso. Acesso: 02 ago. 2020. https://doi.org/10.1590/1984-9260904.
14 Créditos iniciais da série O Mecanismo.
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iniciativa de combate a corrupçao e lavagem de dinheiro da historia do Brasil,"15 como uma verdade absoluta. Afinal, aqueles traços de realidade ali presentes já sao suficientes para endossar o discurso para aquela parcela da audiencia que nao conhece a fundo a investigaçao e os acontecimentos recentes na historia do país. As pessoas que nao conhecem esta realidade, ou conhecem de forma bastante superficial e maniqueísta, nao irao questionar o conteúdo da série. Irao, ao contrário, se identificar com aquele discurso.
Por este motivo, ao tratar de um tema de grande importancia no cenário nacional, a série, da maneira como foi conduzida, em seus oito episodios iniciais, despertou muitas críticas justamente por trazer alguns dados obscuros, por se apropriar de elementos presentes no meio jornalístico e fazer novos recortes, dando um novo enquadramento àquilo que já faz parte de um espetáculo midiático. Tal prática pode ser exemplificada através da apropriaçao das palavras do senador Romero Jucá pelo personagem de Joao Higino (interpretado por Arthur Kohl, que faz referencia ao ex-presidente Lula). A este respeito, após o lançamento da série, a ex-presidente Dilma Rousseff manifestou-se imediatamente:
Na série de TV, o cineasta ainda tem o desplante de usar as célebres palavras do senador Romero Jucá (PMDB-RR) sobre "estancar a sangria", na época do impeachment fraudulento, num esforço para evitar que as investigaçôes chegassem até aos golpistas. Juca confessava ali o desejo de "um grande acordo nacional". O estarrecedor é que o cineasta atribui tais declaraçôes ao personagem que encarna o presidente Lula.16
Ou seja, uma fala real de autoria do senador Romero Jucá, amplamente divulgada pela mídia, teve autoria desvirtuada na séria, atribuindo-a à personagem que representava Luiz Inácio Lula da Silva, com claro intuito de manipular os fatos. Além da apropriaçao deste fragmento, outros pontos da série foram muito polémicos, e repercutiram de forma bastante ampla entre os críticos nas redes sociais. Os personagens, apesar dos nomes fictícios, podem ser facilmente relacionados às pessoas que os inspiraram.17 Marco Ruffo (interpretado por Selton Mello), remete a Gerson Machado (delegado que investigou Alberto Youssef no Banestado, mas aposentou-se antes da Lava Jato. Verena Cardoni (Carol Abras) foi inspirada em Erika Marena, delegada da polícia federal que nomeou a Operaçao Lava Jato. Juiz Paulo Rigo (Otto Jr.) deixa transparecer o juiz Sério Moro, que encara na série a figura de herói, contaminado pelos holofotes. Roberto Ibrahim (Enrique Díaz) é o doleiro Alberto Youssef, visto como uma das peças-chave da Operaçao Lava Jato. Joao Pedro Rangel (Leonardo Medeiros) é Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras, mostrada na série sob o nome de Petrobrasil). Janete Ruskov (Sura Berditchevsky) remete à ex-presidente Dilma Rousseff. Joao Higino (Arthur Kohl) representa o expresidente Lula. Samuel Thames (Tonio Carvalho) aparece como Michel Temer. Lúcio Lemes (Michel Bercovitch) faz alusao a Aécio Neves. Ricardo Bretch (Emílio Orciollo Netto) é mostrado como Marcelo Odebretch. O Partido Operário (PO), como é mostrado na série, simboliza o Partido dos Trabalhadores (PT), e as empresas Bueno Engenharia, Miller & Bretch, TCG, OSA, Estruturax e Carvalho Correa representam, respectivamente as empreiteiras Galvao Engenharia, Odebretch, UTC, OAS, Toyo Setal e Camargo Correa.
15 Ministerio Público Federal, op.cit.
16 Dilma Rousseff. "O mecanismo de José Padilha para assassinar reputaçoes". 25 mar. 2018. Disponível em: <http://dilma.com.br/o-mecanismo-de-jose-padilha-para-assassinar-reputacoes/>. Acesso em 25 mar. 2018.
17 Ana Carolina Leonardi; Alexandre Versignassi e Sofia Fernandez. "O Mecanismo: mapeamos todas as referencias que você nao percebeu", Super Interessante, 21 mar. 2018. Disponível em: <https://super.abril.com.br/cultura/o-mecanismo-mapeamos-todas-as-referencias-que-voce-nao-percebeu/>. Acesso em 21 nov. 2018.
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Observa-se assim que, mesmo por trás da ficçao, há elementos na série que remetem diretamente à realidade; no entanto, a forma com ali é tratada a realidade desperta questionamentos. Será que a proposta da série foi, de fato, produzir um efeito dramático e de entretenimento ou, de maneira subliminar, houve o interesse em distorcer os fatos? Neste sentido, Juremir Machado da Silva,18 em sua análise sobre a série, destaca que "a ficçao pode distorcer a realidade à vontade, mas pode ser cobrada por isso quando, ao mesmo tempo, finge reproduzir essa realidade."
É necessário, portanto, salientar a importancia de uma análise crítica sobre o conteúdo midiático, seja de cunho jornalístico ou de entretenimento, para evitar que opinioes distorcidas confundam, manipulem ou induzam a opiniao pública.19 Nesse sentido foi o comentário da expresidente Dilma Rousseff,20 em sua manifestaçao em relaçao à série, que salienta o seu "respeito à liberdade de expressao e à manifestaçao artística. Há quem queira fazer ficçao e tem todo o direito de fazê-lo. Mas é forçoso reconhecer que se trata de ficçao". Ou seja, pela sua manifestaçao, entende-se o alerta de que é preciso impedir que a ficçao se faça passar por realidade, com o intuito de manipular a opiniao do telespectador, o que de alguma forma ocorre em "O Mecanismo", como mencionado anteriormente.
No que tange à série em si, cabe lembrar que o seu pano de fundo é, de forma generalizada, a corrupçao. Ao abordar este tema e a forma como ele assola o país, a série conquistou uma grande parcela de espectadores, cansados de ouvir falar a respeito do assunto corrupçao diuturnamente no noticiário nacional, mas que nao conseguem ver uma soluçao para este problema. Estas pessoas sao aquelas que acusam a classe política, quase que em sua totalidade, pela corrupçao. No entanto, nao percebem que este problema está bastante arraigado à sociedade em um sentido muito mais amplo. Inicia na base de uma pirámide, com as pequenas corrupçoes diárias cometidas pelo cidadao comum, como sonegar impostos, nao respeitar uma fila ou a vaga reservada para idosos ou deficientes, situaçao tem no seu topo o alto escalao dos representantes do povo, os quais ganham mais notoriedade neste contexto por serem alvos frequentes da mídia em funçao de grandes desvios de verbas, de obras superfaturadas, de uso de dinheiro ilícito em campanhas eleitorais, etc.
A série aponta para estes fatores, obviamente, mas também faz um convite ao público para repensar a questao da corrupçao no dia a dia, quando em um episodio o personagem Marco Ruffo, delegado, precisa contratar um professional para resolver um problema de esgoto em frente à sua casa. O problema em questao deveria ser solucionado sem custo nenhum pela companhia de saneamento, tendo em vista que era externo à propriedade do delegado. No entanto, no episodio em questao Marco Ruffo recebe a indicaçao de um professional autónomo para executar esta tarefa e este, por sua vez cobra um valor muito acima do esperado, e para justificar o alto custo explica que este envolve o valor do material, do seu serviço, a gorjeta que dará ao seu ajudante (que é seu neto, menor de idade) e a comissao que terá que pagar para o funcionário da empresa de saneamento que indicou os seus serviços. A partir deste momento a questao da corrupçao, que é mostrada na série como uma grande engrenagem neste sistema (a qual normalmente é relacionada a uma elite que envolve doleiros, empreiteiras, empresas estatais e representantes políticos), passa a ser trazida para uma realidade mais próxima do espectador, em uma situaçao comum, de modo a ilustrar a dimensao deste problema, mais
18 Silva, op.cit.
19 Para maior aprofundamento sobre a questao da opiniao pública e da participaçao popular em ámbito local, ver Janaína Rigo Santin e Diego M. Santos, "A Opiniao Pública e o Estatuto da Cidade", Revista da AJURIS, 35:111, Porto Alegre, 2008, 115126.
20 Dilma Rousseff. "O mecanismo de José Padilha para assassinar reputaçoes". 25 mar. 2018. Disponível em: <http://dilma.com.br/o-mecanismo-de-jose-padilha-para-assassinar-reputacoes/>. Acesso em 25 mar. 2018.
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próxima e presente do que se imagina. Enquanto muitas pessoas criticam os políticos pelo mau uso do dinheiro público, elas esquecem que, em uma proporçao diferente, podem estar sendo tao corruptas quanto eles.
O discurso anticorrupçao toca o público de uma forma bastante evidente, é um discurso que conquista eleitores, especialmente aqueles que, desesperançosos, acreditam na figura de um salvador da pátria, um "justiceiro capaz de livrar, de uma vez por todas, o país deste problema que o assola ao longo dos séculos", desde a chegada do colonizador portugués, sem no entanto perceber que o problema começa "por baixo", e que nao é uma pessoa que será capaz de livrar o país da corrupçao.21 No entanto, este discurso atrai a atençao e conduz o olhar para um ponto específico, de modo a deixar outros elementos de grande importancia em segundo plano. Para criar este laço com o público descrente da política, especialmente pela forma com a qual é abordada a corrupçao por meios sensacionalistas, a série traz o delegado Marco Ruffo como um homem que leva uma vida normal, que tem problema reais, mas ao mesmo tempo se esforça em curar o "cáncer" (como ele mesmo chama) que é a corrupçao, descrita em sua fala cansada — um dos recursos utilizados para ressaltar esta relaçao.
O ataque à corrupçao nao é novidade na obra de José Padilha. O diretor também traz este enfoque nos filmes "Tropa de Elite 1 e 2", que foram sucesso de bilheteria (e pirataria) no Brasil, e ambos sao centrados na figura do justiceiro que ganha vida através do personagem do Capitao Nascimento (Wagner Moura). Retorna-se agora ao início do ano de 2018, período em que a série "O Mecanismo" era lançada, ano de eleiçoes presidenciais, onde a incerteza política pairava sobre o cenário nacional. Os candidatos à Presidencia da República ainda nao haviam sido definidos, apesar de se ter conhecimento das possíveis alternativas. No decorrer do ano, diferentes acontecimentos marcaram o cenário político que antecedia as "mais polarizadas eleiçoes desde a redemocratizaçao."22
O cenário eleitoral brasileiro de 2018 foi profícuo na disseminaçao de informaçoes falsas, de forma massiva, através de redes sociais, as chamadas fake news,23 situaçao onde o público em geral aceita o que recebe como algo incontestável, e nao se questiona a respeito dos dados ali presentes. Os ataques, de ambos os lados nesta polarizaçao direita x esquerda, foram bastante "baixos" e extremados. Deixou-se a racionalidade em segundo plano, para apelar para argumentos e notícias falsas que beiravam a infantilidade, mas sempre baseados em alguns fragmentos de verdade. Desta forma, o uso de elementos reais, de falas, de imagens e discursos utilizados fora de seus contextos originais, distorcidos, falseados e manipulados, ganhou novos contornos e produziu grandes ruídos, capazes de influenciar o voto de muitos eleitores.
Com o resultado as eleiçoes de 2018, nas quais ascendeu à presidencia do Brasil Jair Messias Bolsonaro (pelo PSL - Partido Social Liberal, na coligaçao "BRASIL ACIMA DE TUDO, DEUS ACIMA DE TODOS"), observou-se de forma bastante contundente a presença imperativa dos meios digitais na campanha, utilizados como fonte de informaçao (e, também, desinformaçao).
21 Para maior aprofundamento sobre o patrimonialismo na gestao pública brasileira ver: Janaína Rigo Santin e Mariane Favretto, "Poder Local, Participaçao Popular e Clientelismo", Direito, Estado e Sociedade, S0:1, Rio de Janeiro, 2017, 126-148. Disponível em: https://revistades.jur.puc-rio.br/index.php/revistades/article/view/SS1. Acesso em 02 ago. 2020, e Janaína Rigo Santin e Leonardo Cardoso, "Nepotismo e Práticas Clientelísticas: uma visao histórica do Poder Local no Brasil", Estudios Históricos (Rivera), 8:16, jul. 2016, 1-17. Disponível em: http://www.estudioshistoricos.org/16/eh1611.pdf. Acesso em 02 ago. 2020.
22 Jonas Valente, "Regulaçao da mídia: a invisibilidade de uma agenda essencial à democracia", Le Monde Diplomatique Brasil, Sao Paulo, 02 out. 2018. Disponível em: <https://dplomatique.org.br/regulacao-da-midia-a-invisibilidade-de-uma-agenda-essencial-a-democracia/>. Acesso em 26 out. 2018.
23 José Roberto de Toledo, "Deu no celular: fim do lulismo, campanha via smartphone e a era da desinformaçao", Folha UOL, Sao Paulo, 18 out. 2018. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/deu-no-celular/>. Acesso em 26 out. 2018.
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A eleiçao de Bolsonaro foi um fenómeno bem complexo sob o prisma do papel das redes sociais. Consideramos esse caso uma convergência de diversos fatores, que se originam no forte hábito de uso de telefonía celular, mas que passam por sua conta no Facebook, pela autenticidade do candidato, pela capacidade de disseminaçao de conteúdo via WhatsApp e até mesmo pela dificuldade que os brasileiros têm de lidar com fake news.24
E esta prática de manipulaçao e distorçao dos fatos reais também se observou em relaçao à série aqui analisada. As informaçoes ali exibidas sao parte de uma obra ficcional com traços de realidade, ou seja, elementos verdadeiros, reposicionados em um discurso artificial, o qual, diante daquela conjuntura de polarizaçao e de notícias falsas, mostrava-se como algo que exigia bastante cautela no que tange à opiniao pública.
4. Conclusao
A pluralidade de opinioes é algo enriquecedor, e deveria ser motivo de comemoraçao em um regime democrático. No entanto, o que se observa é a vontade, muitas vezes mal intencionada de alguns meios de comunicaçao e informaçao, em querer controlar ou manipular a opiniao alheia. Tal prática se observa em diferentes aspectos e diferentes esferas da sociedade, e quando se trata de um ano eleitoral, como foi 2018, observa-se de modo mais evidente.
Diante do que foi analisado nesta pesquisa a partir da série "O Mecanismo", é possível perceber os recursos que possibilitaram distorcer, na época de sua transmissao, discursos e moldar opinioes. O que é apontado aqui nao trata de uma tentativa de estabelecer o que é certo ou errado, mas uma forma de chamar atençao para o fato de que as informaçoes que circulam em diferentes meios podem trazer consigo o interesse de quem as produz.
Ao se utilizar de uma série de ficçao, inspirada em fatos já ocorridos na política brasileira, porém com posiçoes muitas vezes invertidas da realidade, percebe-se como podem ser sutis as manipulaçoes midiáticas, prejudicando tanto à saúde da democracia quanto o direito de livre formaçao individual do pensamento. Sao mensagens que agem em um nível quase subliminar, capazes de interferir nas manifestaçoes genuinamente livres, como devem ser as eleiçoes e o direito ao sufrágio universal. É uma falsa simbologia de elementos, que pode gerar novas crenças e ideologias, formadas a partir da distorçao da realidade.
Desta forma salienta-se a necessidade de uma postura mais crítica por parte do público para que este saiba filtrar aquilo que recebe, e analisar de forma mais crítica e contestadora estas "verdades". É importante valorizar a liberdade de imprensa e a liberdade de expressao; no entanto, é fundamental que haja responsabilidade e honestidade com o conteúdo que se produz e, acima de tudo, com o público que o consome.
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