Научная статья на тему 'MIGRAçãO, RELATO E DESCOLONIZAçãO NO BRASIL A PARTIR DO FILME QUE HORAS ELA VOLTA?'

MIGRAçãO, RELATO E DESCOLONIZAçãO NO BRASIL A PARTIR DO FILME QUE HORAS ELA VOLTA? Текст научной статьи по специальности «Социологические науки»

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ESTUDIOS POSTCOLONIAIS / DESCOLONIZACIóN / IMAGINARIO / CINE / BRASIL / POSTCOLONIAL STUDIES / MIGRATION / IMAGINARY / DESCOLONIZATION / BRAZIL / CINEMA

Аннотация научной статьи по социологическим наукам, автор научной работы — Delazari Fagner, Nascimento Dos Santos Daiana

El presente artículo analiza la película brasileña ¿A qué hora ella regresa? (2015), dirigida por Anna Muylaiert, bajo el prisma de la crítica postcolonial, especialmente en cuanto a las nociones de colonialidad (Quijano), subalternidad (Spivak) y descolonización del imaginario (Akassi). Nos proponemos investigar los aspectos estéticos, políticos y sociales presentes en la obra de ficción, que nos permitan afirmar que el personaje Jéssica representa un esfuerzo de ruptura en relación a la colonialidad presente en las relaciones sociales brasileñas, en especial en lo que relacionado a la situación de la mujer nordestina y empleada del hogar a principios del siglo XXI

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MIGRATION, STORY AND DECOLONIZATION IN BRAZIL FROM QUE HORAS ELA VOLTA? (THE SECOND MOTHER)

This paper intends to analyze the brazilian movie The second mother ( Que horas ela volta? , directed by Anna Muylaert), from the ideas of the postcolonial criticism, specially the notions of coloniality (Quijano), subalternity (Spivak), and decolonization of the imaginary (Akassi). We propose to investigate the aesthetic, political and social aspects present in this fiction movie, that allow us to affirm that the character Jessica represents an effort of rupture in relation to the present coloniality in the Brazilian social relations, especially with regard to the situation of northeastern women and domestic workers at the beginning of the 21st century

Текст научной работы на тему «MIGRAçãO, RELATO E DESCOLONIZAçãO NO BRASIL A PARTIR DO FILME QUE HORAS ELA VOLTA?»

Migragao, relato e descolonizagao no Brasil a partir do filme

Que horas ela volta?* Migration, story and decolonization in Brazil from Que horas ela volta?

(The Second Mother) Migración, relato y descolonización en Brasil desde la película

¿A qué hora ella regresa?

Fagner Delazari** - Daiana Nascimento dos Santos***

Resumo: O presente artigo pretende analisar o longa-metragem brasileiro Que

horas ela volta? (2015), dirigido por Anna Muylaiert, sob o prisma da crítica

pós-colonial, especialmente quanto as nogoes de colonialidade (Quijano),

subalternidade (Spivak) e descolonizagao do imaginario (Akassi). Propomo-nos a

investigar os aspectos estéticos, políticos e sociais presentes na obra de ficgao,

que nos permitam afirmar que a personagem Jéssica representa um esforgo de

ruptura em relagao a colonialidade presente nas relagoes sociais brasileiras, 47

principalmente no que tange a situagao da mulher nordestina e trabalhadora

doméstica no inicio do século XXI.

Palavras-Chave: Estudos pós-coloniais, migragao, Descolonizagao, Imaginário, Cinema Brasileiro.

Abstract: This paper intends to analyze the brazilian movie The second mother (Que horas ela volta?, directed by Anna Muylaert), from the ideas of the postcolonial criticism, specially the notions of coloniality (Quijano), subalternity (Spivak), and decolonization of the imaginary (Akassi). We propose to investigate the aesthetic, political and social aspects present in this fiction movie, that allow us to affirm that the character Jessica represents an effort of rupture in relation to the present coloniality in the Brazilian social relations, especially with regard to the situation of northeastern women and domestic workers at the beginning of the 21st century.

* O presente trabalho está vinculado aos projetos: Fondecyt de Postdoctorado, Folio 3160158 :"Pasados que se entrelazan: representaciones contemporáneas sobre (¿el fin?) de la esclavitud", ao Fondecyt Regular, Folio 1161551: "Formas narrativas del testimonio: relatos de prisión política em Chile, Argentina, Uruguay y Brasil" de Fondecyt Regular e ao "Grupo de Investigación Interdisciplinaria Avanzada (GIIA-UPLA): "Patrimonio, Espacio Social y Desarrollo Territorial".

** Brasileiro, autor, Mestre em Letras: Linguagens e Representagoes pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC. fgnrdlzr@gmail.com

*** Brasileira, coautora, Doutora em Estudios Americanos - mención Pensamiento y Cultura. Professora de Literatura Comparada, vinculada ao programa de Doutorado em Literatura Hispánica do Centro de Estudios Avanzados/Universidad de Playa Ancha, UPLA Chile. Membro do Aladaa-Chile. . daiana. nasciment o@upla. cl

Keywords: Postcolonial studies, Migration, imaginary, descolonization, Brazil, cinema.

Resumen: El presente artículo analiza la película brasileña ¿A qué hora ella regresa? (2015), dirigida por Anna Muylaiert, bajo el prisma de la crítica postcolonial, especialmente en cuanto a las nociones de colonialidad (Quijano), subalternidad (Spivak) y descolonización del imaginario (Akassi). Nos proponemos investigar los aspectos estéticos, políticos y sociales presentes en la obra de ficción, que nos permitan afirmar que el personaje Jéssica representa un esfuerzo de ruptura en relación a la colonialidad presente en las relaciones sociales brasileñas, en especial en lo que relacionado a la situación de la mujer nordestina y empleada del hogar a principios del siglo XXI.

Palabras clave: Estudios postcoloniais, descolonización, imaginario, cine, Brasil.

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Recibido: 6 de julio 2018 Aceptado: 8 agosto 2018

O colonizador é cada vez mais aterrorizado pela metralhizagao dos

Condenados da Terra. Glauber Rocha

Introduçao

O longa-metragem brasileiro Que horas ela volta? langado em 2015, trata de uma viagem. Uma nao: duas viagens. A primeira viagem é a de Val (Regina Casé), que sai de Pernambuco para trabalhar em Sao Paulo em busca de melhores condigoes de vida para sua família. A migragao de Val compoe um dos maiores fluxos migratórios internos da segunda metade do século XX no Brasil1:homens e mulheres que percorriam o território brasileiro do nordeste para o sudeste, em busca de melhores condigoes de vida nas metrópoles industrializadas dos estados de Sao Paulo e do Rio de Janeiro. No caso, Val havia deixado Pernambuco e ido para a cidade de Sao Paulo, tornar-se empregado

1Kléber Fernandes Oliveira e Paulo Jannuzzi, "Motivos para migragao no Brasil e retorno ao Nordeste: padroes etários, por sexo e origem/destino". Sao Paulo em Perspectiva. v.19 n.4 (2005). Sao Paulo out./dez., 134-143; Wilson Fusco. "Regioes metropolitanas do Nordeste: origens, destinos e retornos de migrantes". REMHU: Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana. vol.20, no.39 Brasilia, jul./dez (2012). 101-116.

doméstica e babá de Fabinho, em detrimento de sua filha Jéssica, deixada em seu estado natal. A segunda viagem é a de Jéssica (Camila Márdila), a filha de Val que, jovem, refaz o trajeto percorrido pela mae há treze anos. Porém, se Jéssica busca melhores condigoes de vida, ela o faz de forma diversa de sua mae: ao invés de se submeter a um subemprego, a jovem decide concorrer a uma vaga em uma das mais importantes universidades públicas do país.

Em Sao Paulo, ambas se encontram num bairro nobre, na mansao dos ricos patroes de Val, Carlos e esse é o ponto de partida da narrativa, que se desenvolve explorando as tensoes sociais que envolvem as relagoes étnico-raciais e de classe no Brasil, especialmente quanto ao que tange a questao entre patroes e empregados domésticos.

Em nosso artigo, apresentaremos uma breve resenha de Que horas ela volta?, destacando alguns aspectos que consideramos essenciais na obra. Na parte seguinte, faremos um panorama da crítica pós-colonial, elencando os conceitos que consideramos essenciais em nossa análise para, em seguida, nos atermos á interpretagao do filme. Por fim, faremos as nossas consideragoes finais, buscando esclarecer as possíveis representagoes pós-coloniais do filme e seus limites. No entanto, nao nos deteremos nos aspectos estéticos da obra cinematográfica, mas daremos mais atengao aos componentes socioculturais que se fazem presentes na narrativa e consideramos relevantes para nossa proposta. Seguindo a interpretagao de Maria Inés Magno2, estaríamos diante de uma 49

crónica cinematográfica, que dialoga com aspectos que tangem o cotidiano brasileiro. Como uma crónica, o filme se vale dos pequenos elementos que compoem o dia-a-dia de uma família de classe média-alta brasileira para apresentar ao espectador as questoes ocultas e invisibilizada que concernem ás tensoes de raga e de classe derivadas da estrutura colonial e da desigualdade social presentes no cenário brasileiro.

A questao central que nos guiará diz respeito á personagem Jéssica, o que nos permite apontar uma série de perguntas para entender em que medida, seu comportamento representa uma ruptura com a colonialidade e com a subalternidade á qual sua mae, Val vivenciava no seu cotidiano. E acrescentamos: Quais sao os significados que as agoes de Jéssica podem ter no cenário social brasileiro atual, ainda profundamente marcado pela heranga colonial? E quais seriam os limites desta representagao? Significariam esses gestos de Jéssica uma ruptura em relagao a um ciclo de pobreza e subordinagao e o início de um novo ciclo, emancipado e emancipador? O que a personagem Jéssica poderia trazer de contribuigao para uma crítica pós-colonial? E quais seriam os limites desta representagao? As histórias de Val e de Jéssica

Que horas ela volta?, langado no Brasil em 2015, traz em seu roteiro a chegada da jovem Jéssica á cidade de Sao Paulo, vinda de Pernambuco, estado da regiao Nordeste do país, para morar com sua mae. Val, a mae de Jéssica, havia emigrado do Nordeste para a capital paulista há treze anos, repetindo a sina de milhoes de nordestinos, destinados majoritariamente a trabalhos domésticos, subempregos ou a ocupagoes no mercado informal. Val passou a trabalhar como babá e empregada doméstica para uma abastada

2Maria Inés Carlos Magno, "Que horas ela volta? Uma crónica cinematográfica". Comunicagao & Educagao, Ano XXI, número 1, jan/jun 2016, p.163-169.

familia do bairro nobre do Morumbi, exercendo servigo em tempo integral e residindo no "quarto de empregada" dentro da casa dos patroes.

A vida na mansao do Morumbi se encontrava relativamente estável, com papeis sociais e fungoes bem definidos, até a chegada de Jéssica. A jovem de dezoito anos vinha desde Pernambuco para tentar ingressar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Sao Paulo - ou simplesmente USP - um dos mais concorridos vestibulares do pais. A partir dai, inicia-se uma série de conflitos sociais, emocionais e psicológicos que evidenciam as tensoes nas estruturas familiares e sociais, trazendo á tona relagoes de poder e submissao, agoes de resisténcia, descontentamentos e enfrentamentos, que estavam silenciados, invisibilizados, embora fossem latentes. Ao mesmo tempo, a personagem Jéssica protagoniza agoes de ruptura com a ordem estabelecida, desafiando os papeis sociais impostos, os lugares sociais previamente demarcados e as expectativas de comportamento. A garota "se convida" a se instalar no quarto de hospedes da mansao, ousa pleitear uma vaga na conceituada universidade paulistana, usufrui de espagos domésticos que sao vedados aos servigais, nao ocupa o "seu devido lugar"3 e rompe com as expectativas associadas ao papel social de "filha da empregada", que incluem docilidade, subserviéncia, reconhecimento das normas implicitas, aceitagao da condigao de subalternidade.

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Alguns horizontes da Critica Pós-Colonial

Nossa leitura se guiará pelos horizontes da critica pós-colonial, composta por um amplo espectro de leituras criticas que surgiram na segunda metade do século XX, especialmente a partir dos estudos de Edward Said, Homi Bhabha, Gayatri Spivak, aos quais se juntaram muitos outros autores oriundos de nagoes colonizadas/periféricas, que questionam as narrativas históricas e simbólicas produzidas por intelectuais das nagoes europeias que protagonizaram agoes coloniais/imperiais sobre países africanos, asiáticos, latino-americanos e da Oceania.

Preferimos seguir Clement Akassi4 e utilizar os termos "estudos" ou "crítica pós-colonial" ao invés de "teoria pós-colonial", por considerarmos que aquela categoria pretenderia comportar uma miriade de discursos heterogéneos e em construgao, ainda sem unidade metodológica para que sejam denominadas "teorias" propriamente ditas. Homi Bhabha enfatiza que

[...] toda uma gama de teorias críticas contemporáneas sugere que é com aqueles que sofreram o sentenciamento da história -subjugagao, dominagao, diáspora, deslocamento- que aprendemos nossas ligoes mais duradouras de vida e de pensamento. Há mesmo uma convicgao crescente de que a experiéncia afetiva da marginalidade social -como ele

3 Cf. Larkin Nascimento, E. (1981). Pan-Africanismo na América do Sul: emergéncia de uma rebeliao negra. Petrópolis, Brasil: Ed. Vozes.

4Clement Akassi, "El sujeto cultural (pos)colonial y de la poscolonia: ¿Hacia una crítica literaria para los estudios hispanoafricanos?". Sociocriticism Vol. XXV, 1 y 2 (2010), p.332.

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emerge em formas culturáis nâo canónicas- transforma nossas estratégias críticas. Ela nos força a encarar o conceito de cultura exteriormente aos objets d'art ou para além da canonizaçâo da 'ideia' de estética, a lidar com a cultura como produçâo irregular e incompleta de sentido e valor, frequentemente composta de demandas e práticas incomensuráveis, produzidas no ato da sobrevivencia social.5

Apesar de nao constituir um campo unívoco de ideias, a crítica colonial possui um objetivo em comum: desconstruir as narrativas e os discursos de matriz eurocêntrica sobre as relaçoes entre as sociedades coloniais e sociedades colonizadas, questionando-se os fundamentos epistemológicos eurocêntricos que estavam a definir os cánones e as representaçoes hegemónicas. E esta desconstruçao deve ser realizada desde dentro, isto é, tendo como sujeitos protagonistas da narrativa histórica justamente aqueles grupos sociais que foram dominados e marginalizados pela marcha da civilizaçao.

A complexidade dos processos de independencia das colónias explicitou que a libertaçao nao se limitava à questao política, mas se estendia por muitos outros dominios. Mesmo que a colonizaçao oficial houvesse findado, persistiam os vínculos da colonialidade nos planos do simbólico, do imaginário, das representaçoes sociais, da subjetividade6. Segundo Aníbal Quijano7, o conceito de colonialidade se refere às características coloniais que persistem nas sociedades colonizadas mesmo após os 51

processos formais de independencia. A colonialidade inclui a formaçao da subjetividade, das visoes de mundo, das estruturas das instituiçoes sociais, da cultura e das dinámicas político-económicas vigentes. A globalizaçao e a própria noçao de modernidade seriam mantenedores da colonialidade, uma vez que fazem com que as relaçoes assimétricas de poder se perpetuem entre sociedades coloniais (centro) e sociedades colonizadas (periféricas). Conforme Restrepo e Rojas (2010), colonialidade também pode ser definida como

(...) um fenómeno histórico muito complexo que se estende até nosso presente e se refere a um padrao de poder que opera através da naturalizaçao de hierarquias territoriais, raciais, culturais e epistemicas, possibilitando a reproduçao de relaçoes de dominaçao8.

É possível concluir daí que nao só os territórios, mas, sobretudo, as mentes se encontram colonizadas. O modelo eurocêntrico implementado no longo processo colonial

5Homi K. Bhabha, O local da Cultura, Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998, p.240.

6Catherine Walsh, "¿Son posibles unas ciencias sociales/culturales otras? Reflexiones en torno a las epistemologías decoloniales". Nómadas. No. 26, (2007), 103-112. Walsh ampliou o debate sobre a colonialidade iniciado por Aníbal Quijano, acrescentando nuances e categorias para dar conta da complexidade e das especificidades locais do fenómeno. Além das trés categorias de Quijano, Walsh também inseriu a categoria "natureza".

7Anibal Quijano, "Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina". In Lander, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciencias sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: Colección Sur Sur, 2005, p.115.

8E. Restrepo e A. Rojas, Inflexión decolonial: fuentes, conceptos y cuestionamientos. Popayán, Colombia: Universidad del Cauca, 2010, p. 33. Tradugao dos autores.

realizou um efetivo processo de colonizagao do imaginário9, que subordinou valores, crengas e manifestagoes culturais locais a "uma específica racionalidade ou perspectiva de conhecimento mundialmente hegemónica, colonizando e sobrepondo-se a todas as demais"10.

A nogao de colonialidade é relevante: ela permite expor os mecanismos simbólicos, económicos e filosóficos que perpetuam as estruturas da dominagao fabricadas ao longo do processo colonial, construindo um sistema-mundo moderno-colonial11. No cenário globalizado que se constitui na segunda metade do século XX, as antigas colonias foram mantidas em condigao de subdesenvolvimento e relegadas a uma posigao periférica na hierarquia global. Os colonizadores mantém-se no centro do poder, como outrora. Como enfatiza Quijano, "a globalizagao em curso é, em primeiro lugar, a culminagao de um processo que comegou com a constituigao da América e do capitalismo colonial/moderno e eurocentrado como um novo padrao de poder mundial" 12.

Assim como a África, Ásia e Oceania, a América Latina também está inserida na lógica global, neste sistema-mundo moderno/colonial, sofrendo os efeitos contemporáneos da colonialidade. Evidentemente, esta colonialidade nao é um processo univoco e homogéneo, apresentando variagoes conforme as caracteristicas especificas das relagoes de dominagao e entre os sujeitos em cada lugar em que ocorre. Por isso, o Brasil também é palco das contradigoes que envolvem a presenga de modelos hegemónicos de 52

cunho tanto político-económico quanto simbólico, que visam manter as relagoes de poder assimétricas que foram construidas ao longo de uma história marcada pela dominagao e pela exclusao social.

Conforme Aníbal Quijano, a nogao de colonialidade do poder revela um exercicio de dominagao típico da modernidade, que se baseia em quatro aspectos básicos: a nogao hierárquica de raga, a exploragao do trabalho, o modelo de Estado de matriz ocidental-burgués e o controle do conhecimento13. Santiago Castro-Gómez, por sua vez, afirma que

o conceito de "colonialidade do poder" amplia e corrige o conceito foucaultiano de "poder disciplinar", ao mostrar que os dispositivos pan-óticos [panópticos] erigidos pelo Estado moderno inscrevem-se numa estrutura mais ampla, de caráter mundial, configurada pela relagao colonial entre centros e periferias devido á expansao europeia.14

Estes aspectos perpetuam as assimetrias de poder político-económico e simbólico entre Estados centrais e periféricos no atual modelo globalizado, ao mesmo tempo em que

9Akassi, op. cit., p.333. 10Quijano, op. cit., p.116.

nImmanuel Wallerstein e Aníbal Quijano, "Americanity as a concept or the Americas in the modern world-system", in.: International Social Science Journal, Paris, UNESCO, n° 134, novembro, 1992, p.449. 12Quijano, op. cit., p.108. 13 Ibidem.

14Santiago Castro-Gomes, "Ciências sociais, violência epistêmica e o problema da 'invençao do outro'". In Lander, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: Colección Sur Sur, 2005, p.83.

consolidam a dominagao em níveis que formam o substrato cultural das sociedades, a partir da produgao de um imaginário estético-científico cuja finalidade é perpetuar as relagoes de poder. Sociedades colonizadas, como a brasileira, formaram suas estruturas sociais a partir de uma estrutural socioeconómica de base escravista. Segundo Stuart Hall,

os sistemas de classe e de raga se sobrepunham um ao outro. Eram sistemas de equivaléncia. As categorias raciais e étnicas continuam a ser hoje as formas pelas quais as estruturas de dominagao e de exploragao sao "vividas". Neste sentido, esses discursos tém a fungao de reproduzir as relagoes sociais de produgao.15

Joaquim Nabuco havia sentenciado ainda no século XIX, durante o regime imperial anterior á aboligao da escravatura, que "a escravidao permaneceria por muito tempo como a característica nacional do Brasil"16. De fato, ela permanece moldando a estrutura social moderna brasileira: o trabalho doméstico, exercido majoritariamente por mulheres negras, pobres, de baixa escolaridade, é uma evidente heranga colonial perceptível no presente. As antigas amas e mucamas que serviam aos senhores nas casas-grandes coloniais - conforme Gilberto Freyre descreveu em sua monumental obra Casa Grande e Senzala, de 1932 -foram assimiladas pelo sistema capitalista concorrencial e passaram a sobreviver nas mansoes e apartamentos das classes-médias dos grandes centros urbanos como lavadeiras, 53

cozinheiras, faxineiras e babás.

Os autores associados á crítica pós-colonial acentuam a necessidade de desconstruir as narrativas adotadas como oficiais, enxergando nelas princípios, metodologias e epistemes comprometidos com a ideologia colonial17. A partir desta desconstrugao, devem-se reconstruir as narrativas a partir "de dentro"18, reconhecendo a importancia de outras epistemes19 e enfatizando as experiéncias e as visoes de mundo daqueles grupos que historicamente se encontraram marginalizados, silenciados e subalternizados pela dominagao simbólica. O famoso ensaio de Gayatri Spivak, Pode o subalternofalar? (2010),é emblemático nesta empreitada de desconstrugao/reconstrugao de conceitos que compoem o canone da filosofia ocidental, revelados em seu potencial dominador e regulador a partir de sua pretensa universalidade. A obra de Spivak, dotada de grande poder de mobilizagao, instaura uma agenda política que reivindica protagonismo áqueles que foram relegados á subalternidade e contra os quais se cometeu inúmeras violéncias, inclusive violéncias epistémicas.

15Stuart Hall, Da diáspora.Identidades e mediagoes culturáis. BELO HORIZONTE: Editora UFMG, 2009, p.179-180. 16Joaquim Nabuco citado em "As empregadas domésticas e a escravidao", Pragmatismo Político, https: //www.pragmatismopolitico.com.br/2014/11 /empregadas-domesticas-e-escravidao.html. Acesso em 12/03/2018.

17Daiana Nascimento dos Santos, El oceáno de fronteras invisibles: relecturas históricas sobre (el fin?) de la esclavitud em la novela contemporánea. Madrid: Verbum Editorial, 2015, p.48.

18 Walker Scheila, Conocimiento desde adentro. Popayán: Editorial Universidad del Cauca, 2012, p. 23

19 Nascimento dos Santos, op. cit., p. 47-48.

Clement Akassi, ao perceber a necessidade de proceder a um processo de descolonizagao do imaginario20, reconhece com grande argúcia que parte significativa da colonialidade contemporánea se encontra no dominio do simbólico e afeta diretamente a formagao da subjetividade, tal como nos informa Akassi. Enquanto instituigoes sociais como a Escola e o Estado permanecerem estabelecimentos reprodutoras de desigualdades e preconceitos, várias geragoes tenderao a perpetuar a ordem colonial, excludente e assimétrica, especialmente contra grupos tornados minorias políticas: negros, mulheres, grupos étnicos marginalizados, LGBT, grupos indígenas, entre outros. Neste sentido, a nogao de subalternidade desenvolvida por Spivak poderia ser aplicada também a estes grupos minoritários, uma vez que ocupam a posigao de "Outro", em relagao de oposigao e subjugagao ao "Eu"21. Como diz Akassi, os autores pós-coloniais

buscam acima de tudo a forma de desconstruir os discursos de reprodugao da violéncia colonial e possibilitar a descolonizagao do imaginário e a renegociagao dos discursos de representagao da Nagao, da democracia, da Mulher; buscam, no fim das contas, um novo contrato de participagao cidada e sociocultural, nao um monopólio familiar, patriarcal, nem multinacional.22

Desta forma, a critica pós-colonial se propoe a ser nao só uma agenda descritiva, 54

que denuncia os mecanismos ideológicos de dominagao colonial, mas também uma agenda proativa, de forte cunho político, que estimula a desconstrugao dos discursos dominantes e impele á luta social para a superagao da situagao colonial. A arte, sobretudo a literatura e o cinema, tém contribuido significativamente para esta ampliagao de horizontes, reconhecendo a importáncia de outros marcos teórico, outras visoes, perspectivas, experiéncias, diferentes daquelas que compoem o cánone oficial ocidental. Na sequéncia, discutiremos como o cinema, através do filme Que horas ela volta?, pode contribuir para este processo.

Que horas ela volta: migragao, subalternidade e descolonizagao

Sergei Eisenstein (1898-1948), o maior expoente do cinema revolucionário soviético, afirmava que a

arte é sempre conflito (...). De acordo com sua missao social é tarefa da arte tornar manifestas as contradigoes do Ser. Formar visoes justas despertando contradigoes na mente do espectador, e forjar conceitos intelectuais acurados a partir do choque dinámico de paixoes opostas.23

20 Akassi, op. cit., p. 343.

21Gayatri Spivak, Pode o subalterno falar? Belo Horizonte, Editora UFMG, 2010, p. 47-48. 22Akassi, op. cit., p. 348-349.

23 Sergei Eisenstein, A forma do filme, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002, p.48.

Nesse bojo, o longa-metragem de Ana Muylaert nos parece se aproximar desse princípio estético por nos oferecer uma reflexao sobre as relaçoes entre as "casas grandes" e as "senzalas" contemporáneas. A reflexao que a diretora sugere se impoe diante de um imaginário de dominaçao constituído e perpetuado, por isso, a recepçao do filme foi marcada pela sensaçao de incómodo. Val é representante de um tipo de migraçao interna mais expressiva no Brasil no século XX: a migraçao Nordeste-Sudeste. Para o geógrafo Carlos Eduardo Vainer,

o processo das migraçoes nordestinas se encontram ligadas à política racista e imigrantista desenvolvidas desde a colonizaçao. No início do século XX, a substituiçâo do trabalho do negro escravo vai ser feita pelo trabalhador branco e livre da Europa. Os imigrantes europeus eram direcionados para Sao Paulo e Rio de Janeiro, com promessas de encontrar abundáncia de terra e um clima promissor.24

As políticas migratórias ao longo do século XX, no Brasil, sao marcadas por uma noçâo desenvolvimentista associada ao modelo de "progresso civilizatório", que Suzana Moreno Maestro chama de paquete cultural occidental: capitalismo, industrializaçao, tecnologia avançada, democracia representativa, individualismo25. A ideologia de matriz liberal-burguesa passa a se misturar às forças conservadoras que ordenavam a estrutura 55

social colonial há quatro séculos, ditando novos caminhos para o suposto "progresso". Este modelo de "progresso" continua a obedecer à mesma lógica sistêmica da colonizaçao, cujo alcance é amplificado pelo processo de globalizaçao a partir da segunda metade do século XX.

Em contrapartida à modernizaçao do Sudeste, o interior do Nordeste ve-se forçado a um processo de mecanizaçao das lavouras e intensificaçao da pecuária que tem como resultado a dissoluçao de grande parte das colónias de trabalhadores nas fazendas, aumentando o desemprego. Esse fenómeno se acentua nas décadas de 1970 e 1980, quando ocorre o auge da emigraçao de nordestinos para o Sudeste (diga-se: principalmente Sao Paulo e Rio de Janeiro), para desempenhar funçoes braçais e de baixo custo em obras de infraestrutura (metró, represas, estradas, pontes, construçao civil) além de serviços temporários no setor agrícola do interior paulista, uma vez que possuíam pouca ou nenhuma escolaridade e praticamente nenhuma qualificaçao profissional. Estas ocupaçoes estavam destinadas especialmente aos homens. Já às mulheres imigrantes nordestinas, obedecendo a uma divisao sexual do trabalho, destinavam-se majoritariamente à indústria textil e ao trabalho doméstico, exercido frequentemente de modo informal.

O eixo Sul-Sudeste, com evidente destaque para Sao Paulo, vai sendo constituído como o "centro" de poder político, económico e cultural do país, destituindo antigos

24Carlos B.Vainer, "Do corpo marcado ao território demarcado: uma leitura da transigao para o trabalho livre como ponto de partida para uma historia da mobilidade do trabalho no Brasil". Cadernos de migragao, Sao Paulo, n. 7, 2000, p.19.

25Suzana Moreno-Maestro, "Economía y cultura. Interpretaciones etnocéntricas de realidades sociales africanas", em Fundación Habitáfrica: REpensando ÁFRICA Perspectivas desde un enfoque multidisciplinar. Fundación Habitáfrica, Andalucía (España), 2012, p.69.

centros de poder (como Salvador e Recife, ambas no Nordeste) e mantendo na periferia os sertoes considerados "atrasados". A dicotomia urbano-rural se intensifica e se consolida. Paradoxalmente, parte considerável dos construtores do Sudeste "civilizado" e "moderno" sao grupos considerados "subalternos": negros, mestigos, imigrantes - homens e mulheres.

Nas décadas de 1940 até 1990 essa dicotomia se acentua, tendo como efeito um largo fluxo migratório, que produz excedente populacional disponivel para as atividades industriais e de urbanizagao. A expectativa é que o imigrante seja absorvido pela industrializagao e essa lhe proporcione novas oportunidades para a melhoria de seu padrao de vida26. Sao Paulo passa a ser o grande sonho de boa parte dos nordestinos, enxergando na metrópole industrializada a oportunidade de escapar do desemprego, da seca e da pobreza do agreste e da caatinga.

A personagem Val, interpretada por Regina Casé, é um exemplo do fenómeno acima. Jéssica também é uma imigrante, mas seu deslocamento territorial possui outros tons. Val e Jéssica sao imigrantes, mas representam duas fases distintas do processo de migragao interna Nordeste-Sudeste, o que se refere também ás mudangas económicas e socioculturais impulsionadas pelos catorze anos do Partido dos Trabalhadores no poder. E por isso é relevante para a nossa análise.

Val é o protótipo do imigrante colonizado, já profundamente assimilado á lógica 5^

dominante, resignado á posigao de subalternidade e marginalizagao social, alocado nas partes menos bem-aventuradas da infraestrutura económica. Sua fungao na ordem social é a de ser herdeira da ama de leite, a escrava doméstica que cuidava dos filhos do patrao-branco. Tratada como "quase da família", a babá-empregada doméstica encontra-se integralmente a servigo da casa grande, zelando pela manutengao da propriedade privada e pelo cuidado com o filho do patrao, a quem dedica o amor materno que nao póde dispensar á própria filha, uma vez deixada em Pernambuco com os avós em nome da sobrevivéncia em Sao Paulo.

Sua tripla condigao de mulher imigrante, nordestina e subalterna é relembrada a todo o tempo no filme. Há um acento exagerado quanto aos seus trejeitos de fala (sotaque, vocabulário), sua excessiva simplicidade de raciocinio, sua lealdade submissa aos patroes. E também nas cenas de humor, em que se atribui de forma estereotipada elementos de comicidade que estao associadas a estereótipo exótico dos nordestinos, segundo a visao dos moradores do sudeste, em clara manifestagao de preconceito de classe e de origem geográfica.

A "situagao colonial"27 apresentada no filme é naturalizada de tal forma que todos os personagens sabem, "como se fosse de nascenga", seus lugares nas estruturas de

26Vainer, op. cit., p.24.

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27George Balandier, "Situaçâo colonial: uma abordagem teórica", em Sanches, M. R. Malhas que os impérios tecem, Lisboa, Ediçoes 70, 2011p.247.Nesse texto de 1950, George Balandier adota a expressâo situaçâo colonial para abordar os múltiplos fatores - históricos, sociais, económicos, políticos, culturais, psíquicos - sob os quais se organizam as relaçoes de dominaçâo e dependencia entre sociedade colonial e sociedade colonizada, visando cristalizar e perpetuar a colonialidade.

micropoder28 vigentes. "A pessoa já nasce sabendo", diz Val a sua filha, em certo ponto da trama em que Jéssica questionava a origem do comportamento submisso de sua mae. A ordem do mundo é seguida numa rígida hierarquia que se manifesta nos gestos, na linguagem, no comportamento e nos territórios dispostos para cada ator social no espaço da casa. Como diz Foucault,

o que faz com que o poder se mantenha e seja aceito é simplesmente que ele nao pesa só como uma força que diz nao, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instáncia negativa que tem por funçao reprimir.29

Nao há dúvidas de que a relaçao entre patroes e empregados domésticos, em boa parte da burguesia e das elites aristocráticas brasileiras da atualidade, ainda obedece às estruturas remanescentes e reatualizadas de uma sociedade colonizada e escravocrata30. As evidencias sao várias e observáveis empiricamente31: as respectivas origens étnico-raciais de patroes e de empregados; as relaçoes assimétricas de poder, que vao muito além de qualquer questao profissional; a confusa mistura entre vida privada (afetiva) e vida profissional, que distorce e perverte as questoes relativas a direitos trabalhistas; a imposiçao de vestimentas que demarquem visualmente a funçao social da empregada 57

doméstica e sua respectiva subalternidade; a restriçao de acessos que evidenciem o "lugar

28Michel Foucault, A microfísica do poder, Rio de Janeiro, Graal, 1979. A nogao de microfísica evoca as muitas estruturas de poder que se ocultam na vida cotidiana e que, apesar de invisíveis, se revelam altamente eficazes na submissao do indivíduo. 29Foucault, op. cit, p. 08.

30 Bergman de Paula Pereira, "De escravas a empregadas domésticas - A dimensao social e o "lugar" das mulheres negras no pós- aboligao". Anais do Encontro da ANPUH, 2011, Disponível em http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1308183602_ARQUIV0_ArtigoANPUH-Bergman.pdf. Acesso em 09/06/18.

31 Evidentemente, outras formas de organizagao do trabalho doméstico também se construíram ao longo do tempo em sociedades que passaram pelo processo colonial. As babysitters, nos EUA, e as aupairs, em países de cultura francesa, exemplificam essa multiplicidade de organizagao, em que o modelo capitalista incorporou sistemas de prestagao de servigos dinamicos, ditados pela relagao de oferta e procura dentro de um mercado, ainda que informal. Porém, no Brasil, o trabalho doméstico e a atividade de babá nao podem descurar das origens históricas da escravidao, como salienta Pereira "Os significados sociais e raciais da prestagao dos servigos domésticos é engendrada pela complexidade que abrange as relagoes estabelecidas entre patroes/senhores(as) e suas criadas/ empregadas. O trabalho doméstico, exercido predominantemente pelas mulheres, é uma atividade histórica e ligada ás habilidades consideradas femininas , no contexto da escravidao, o papel de organizagao e cuidado da casa grande, ficou a cargo das mulheres negras, enquanto para as mulheres brancas a principal fungao dentro do lar era o de estabelecer a ordem e o bom funcionamento do lar. Quando Gilberto Freyre, se refere as "casas grandes" e as "senzalas", está enunciando os elementos fundamentais que compuseram a estrutura agrária do país. Desta maneira nos fornece alguns dos dados responsáveis pela formagao do quadro social em que se desenvolveu o escravismo brasileiro" (op. cit., 2011, p. 6).

da servigal" na ordem doméstica; a persistencia do "quarto de empregada" e do elevador de servigo na estrutura arquitetónica32

A antropóloga Jurema Brites, citando Donna Goldstein, descreve a complexidade da relagao entre patroa e empregada/babá com a expressao "ambiguidade afetiva", demonstrando como é "na troca afetiva entre aquelas que podem pagar pela ajuda doméstica e as mulheres pobres que oferecem seus servigos que as relagoes de classe sao praticadas e reproduzidas"33. Como acentua Pablo Villaga,

nao que "dona" Bárbara (Teles) seja má pessoa, pois nao é: dentro dos limites do que considera socialmente aceitável, é carinhosa e gentil com a empregada que serve a familia há mais de uma década e que praticamente se tornou "uma segunda mae" para seu filho Fabinho (Joelsas), que confidencia frustragoes e sonhos para a mulher que passa mais tempo ao seu lado do que aquela que o gerou. Mais uma das milhoes de pessoas que no passado migraram do Nordeste para Sao Paulo em busca de uma vida com melhores possibilidades, Val parece perfeitamente confortável com seu papel na familia, embora obviamente sinta saudades da filha que teve que deixar para trás e para a qual envia parte de seu salário todos os meses - o que nao impediu que o

relacionamento se fraturasse, já que nao se veem há dez anos.34 ^g

Como postulava Eisenstein, a fungao social da arte é a de explicitar conflitos e produzir incómodos. E Ana Muylaert cumpre essa fungao com a personagem Jéssica. Toda a ordem organizada e naturalizada de Val na familia de "dona" Bárbara/José Carlos/Fabinho é tensionada e rompida em fungao da 'insubordinagao' da jovem em aceitar as normas "que já devia ter nascido sabendo". O comportamento de Jéssica explicita a situagao colonial que era aceita como normal, natural, tanto pelo dominado quanto pelo dominante. Ela se recusa a assimilar a subalternidade que já havia sido incorporada como regra por sua mae (a personagem colonizada, por exceléncia) e, obviamente, pelos personagens que representam a "Casa grande". Por isso Jéssica instaura o conflito: seu comportamento pode ser considerado atrevido, desafiador, arrogante por parte de quem esperava ver docilidade, subordinagao, resignagao de quem deveria saber qual é o seu lugar na estrutura social.

Jéssica também é uma migrante, mas numa outra conjuntura e de outra forma. Se a imigragao nordestina para o Sul-Sudeste foi intensa até a década de 1990, os anos 2000 experimentaram uma retragao no fenómeno e testemunharam o fenómeno da migragao de retorno, no qual parte dos imigrantes volta para suas regioes de origem. Mesmo oriunda de classe social menos privilegiada, Jéssica chega a Sao Paulo de aviao - o que seria

32Fernando Luiz Lara, "A exclusao no espago doméstico". Revista Fórum, 02 de maio de 2013. Disponível em http:/ / www.revistaforum.com.br/2013/05/02/a-exclusao-no-espaco-domestico/. Acesso em 20/02/17. 33Jurema Brites, "Afeto e desigualdade: genero, geragao e classe entre empregadas domésticas e seus empregadores". Cadernos Pagu, n.29, jul-dez, SP, 2007, p.93. 34 Pablo Villaga. "Que horas ela volta?". Disponível em

http://cinemaemcena.cartacapital.com.br/Critica/Filme/8187/ que-horas-ela-volta. Acesso em 12/06/18.

impensável num contexto de maior desigualdade económica vivenciado até a virada para o século XXI. E ela nao chega para trabalhar, submetendo-se a subempregos em troca da subsisténcia, porém almeja o que até pouco tempo era completamente interditado a alguém de sua origem social/regional: um lugar em uma das mais prestigiadas universidades públicas do Brasil. E, diferentemente do que se esperava, Jéssica desafia a lógica da dominagao com um comportamento refratário á colonialidade imposta como "natural". Reconhece a assimetria de poder, mas se recusa a compactuar com ela e nao se resigna a reproduzi-la, como sua mae o fazia. Mais do que isso, Jéssica adota uma postura proativa, considerada "excessivamente segura de si" por Fabinho, toma iniciativas de agao que supostamente destoam de sua condigao de subalternidade por heranga familiar. Por exemplo, convida-se para ficar hospedada no quarto de hóspedes da família; senta-se á mesa de café dos patroes e aceita ser servida por Bárbara que, a contragosto e em tom de desaforo, acusa-a de forma irónica de "nao saber o seu lugar"; joga-se na piscina com Fabinho, rompendo um dos tabus de separagao da "casa grande e da senzala".

No decorrer do filme as relagoes de Jéssica com outros personagens serao marcadas por tensoes. Com Val, a relagao é de mágoa e ressentimento pelo fato de sua mae nao ter retornado para o Nordeste, além da recusa em aceitar a vida subjugada levada por ela no interior da mansao do Morumbi. Com Bárbara, a patroa branca, a relagao é inicialmente de condescendéncia por sua permanéncia temporária como "hospede", mas rapidamente se 59

transforma em conflito pelo comportamento insubmisso da filha da empregada, chegando á hostilizagao e solicitagao para que a garota saísse da casa. Com José Carlos, o marido de Bárbara e herdeiro da riqueza por heranga familiar, Jéssica torna-se objeto de desejo e vítima de assédio, o que nos remite ás relagoes de poder do período escravocrata. Com Fabinho a relagao é mais superficial no início, misto de curiosidade e atragao velada, mas após o vestibular torna-se competitiva, uma vez que nem o jovem nem sua família consideram aceitável uma "derrota" no vestibular para a "filha da empregada".

Com grande atuagao da atriz Camila Márdila, a personagem Jéssica passa a representar um novo segmento juvenil nordestino potencializado por lutas sociais e políticas-públicas que pretendem empoderar - ou, ao menos, permitir a possibilidade de protagonismo - grupos sociais que historicamente foram/ sao marginalizados na sociedade brasileira: nordestinos em geral, mulheres, negros, indígenas, etc. Consideragoes finais: Jéssica e a representagao da descolonizagao

Que horas ela volta? tem sido elogiado pela crítica desde seu langamento no segundo semestre de 2015 no Festival de Sundance, nos EUA. Foi indicado a diversos prémios no Brasil e na Europa, tendo sido, inclusive, o candidato oficial do Ministério da Cultura brasileiro na concorréncia pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016. Apesar de nao ter conseguido a desejada estatueta, foi digno de outros prémios, como uma mengao honrosa no Festival de Cannes - aonde foi aplaudido de pé pelo público - e o primeiro lugar na 13a edigao do prémio Faz a Diferenga, realizado pelo O Globo. Durante a entrega desta última premiagao, a diretora do filme fez um discurso politicamente engajado:

Quero dedicar este prémio ás Jéssicas que estao hoje nas universidades e

a algumas pessoas que eu acredito que tém muito a ver com isso.

Entendo essas pessoas como pais e maes da Jéssica. Nao no filme, mas na vida real: o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff.35

Vale observar que o discurso de Muylaert serve como um complemento e também como uma nota esclarecedora em relagao a um elemento que pode ser objeto de critica no filme: a individualizagao da personalidade de Jéssica.

"É, o país está mudando mesmo...", diz "dona" Bárbara, patroa de Val, quando descobre que a filha da empregada iria concorrer a uma vaga em Arquitetura na USP. Esta bre1ve alusao ao contexto-histórico brasileiro deixa entrever, como uma fresta de luz, os impactos de uma série de medidas e políticas públicas de inclusao social, insergao educacional, transferéncia de renda, acesso a crédito, incentivos ás regioes Norte e Nordeste no cenário nacional de forma mais proativa, que foram fundamentais para possibilitar o desenvolvimento de um cenário mais favorável ao surgimento de novas Jéssicas.

Porém, como a alusao é breve e nao é endossada por outros elementos narrativos, pode levar um observador desatento a atribuir o sucesso de Jéssica somente ao seu mérito individual, correndo o risco de reforgar os discursos ideológicos meritocráticos que mascaram as desigualdades de oportunidade e as exclusoes de classe, género e de raga. Ainda que o componente individual seja relevante, afinal há que haver superagao mediante esforgo diante de sucessivas negagoes, a individualizagao do mérito acaba por manter a estrutura de exclusao que caracteriza a negagao de acesso a direitos e status social no país. A personagem Jéssica, a nosso ver, nao deve ser vista como um ente isolado, fora da curva, mas sim como a representagao de uma categoria social que emerge das lutas sociais e das mudangas (ainda que pequenas) na estrutura económica vivenciadas na história recente do Brasil, na qual a diegese se encontra inserida.

Outro ponto que consideramos merecer destaque consiste na exploragao da comicidade na personagem Val, certamente em fungao de um veio humorístico da atriz Regina Casé, mas que incorre em estereótipos associados a trejeitos de linguagem e vicios de fala - historicamente objetos de preconceito contra os nordestinos - além de um comportamento burlesco diante de fatos corriqueiros. Esses estereótipos sao constantemente reforgados pela midia brasileira, especialmente por programas humorísticos de apelo popular, como Zorra Total e A praga é nossa (este exibido pela emissora SBT), bem como por várias novelas da Rede Globo de Televisao. Apesar disso, a atuagao de Regina Casé é simples e eficaz, produzindo sentimento de empatia com o público, que tende a enxergar na sua atuagao valores morais que sao considerados virtuosos pela cultura brasileira, como humildade, fidelidade, sinceridade e dignidade. Ao contrário da "dona" Bárbara, cuja construgao soa excessivamente pedante e artificial o que produz o risco de uma interpretagao maniqueista das complexas relagoes sociais imbricadas na situagao.

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35Macedo, 2016, p. 01. Macedo, I. "Em premiagao, Anna Muylaert dedica premio a Lula e Dilma". (2016, 03 de margo). Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/03/1753724-em-premiacao-anna-muylaert-dedica-premio-a-lula-e-dilma.shtml. Acesso em 15/07/2016.

Para retomar a pergunta que fizemos na introdugao e com a qual finalizaremos nosso artigo, nos questionaremos em que medida Jéssica representa uma ruptura com a colonialidade e com a subalternidade á qual Val estava submetida. Como a personagem pode contribuir para o debate sobre a descolonizagao do imaginário?

Para a articulista Léa Reis, a personagem Jéssica produz um evidente incómodo por dar visibilidade a esta assimetria cristalizada em nossa sociedade:

da figura da babá, resquício da escravatura, á empregada doméstica modelo nacional, um outro entulho largado no caminho pela escravidao no país, foi um pequeno passo para expandir o argumento. Sem o trabalho das outras milhares de Vals existentes neste país, sejam elas babás, diaristas ou moradoras em um quarto infecto, na casa dos patroes, a família burguesa brasileira emperra e nao funciona. A dependéncia dos patroes é absoluta - até para o mínimo gesto de levantar da cadeira e ir á geladeira para se servir de um copo de água. É isto que Anna mostra serenamente, com simplicidade. E a dependéncia estampada no espelho que é a telona deixa a plateia burguesa nervosa. 36

Jéssica é personagem com grande potencial simbólico porque representa uma possível mudanga de perspectiva do subalterno em relagao á sua situagao colonial. Um 61

subalterno que reconhece a existéncia de uma condigao de subserviéncia, mas que nao a aceita e resiste a ela. Um subalterno que emerge das "senzalas modernas" e reivindica igualdade de posigoes. Que exige ter voz para narrar a si mesmo e ser senhor da sua própria história. Que critica as dicotomias clássicas de poder e deixa de se enxergar como "segundo dos pares" e, por extensao, se recusa a ver no "primeiro dos pares" um senhor. Que desafia a colonialidade, buscando construir novos modos de postular as relagoes simbólicas e afetivas entre si e os demais. Que produz incómodo na estrutura social, por desvelar violéncias simbólicas naturalizadas e, por isso, invisibilizadas. Um subalterno que luta para que nao seja mais visto como subalterno, porém sujeito de direitos num estado democrático de fato.

Ainda que menos por suas reflexoes e mais por uma agao incisiva de resisténcia e de superagao da condigao de subalternidade, consideramos que a personagem Jéssica representa um passo significativo em diregao á descolonizagao do imaginário colonial. O reconhecimento das relagoes de dominagao e a recusa em se submeter á sua reprodugao, manifestos pela personagem, sao indícios de amadurecimento de uma consciéncia que se empenha em se descolonizar, que luta contra as formas simbólicas de manutengao da opressao de um grupo sobre outro e busca um novo modo de se colocar no mundo. Pablo Villaga compartilha deste ponto de vista, ao observar que

se Val é um símbolo de um passado recente, sua filha Jéssica é o retrato de um Brasil que mudou muito e rápido e no qual "a filha da

36Léa Maria Aarao Reis, Que horas ela volta? Com medo de Jéssica. Disponível em https: / / www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cultura-e-Arte/Que-horas-ela-volta-Com-medo-de Jessica/39/34591.2015

empregada" passou a sonhar com algo mais do que simplesmente ser indicada pelos patroes da mae para trabalhar na casa de alguma familia amiga. Inteligente, ambiciosa e consciente de seus direitos e possibilidades, Jéssica se choca ao descobrir que a mae passou todos aqueles anos dormindo em um quarto mínimo cuja única janela abre nao para o exterior, mas para a lavanderia. Ao contrário de Val, Jéssica nao cresceu num mundo de hierarquias e categorias sociais-económicas rígidas e imutáveis; sim, alcangar seus objetivos exige um trabalho infinitamente maior e envolve probabilidades bem menores de sucesso, mas nao é algo que se encontra mais fora da realidade.37

Um dos elementos mais simbólicos do filme deveu-se a um fato curioso quanto á sua recepgáo. Segundo relatos da própria diretora Anna Muylaert, em vários auditórios onde pode debater sobre o filme, ela teria presenciado38 mulheres se levantando espontáneamente na plateia e dizendo: "eu também sou uma Jéssica". Este gesto espontáneo de identificagáo é, por si só, altamente significativo: revela a capacidade de síntese e de produgáo de empatia do personagem, cuja representagáo reflete um conjunto real de sujeitos sociais que se identificam com a luta da jovem pernambucana, cujas vozes passam a poder ser ouvidas em uma sociedade historicamente marcada pelo silenciamento e pela naturalizagáo das desigualdades. 62

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37 Villaga, op. cit., p. 1.

38 Macedo, op. cit. P. 1.

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