Научная статья на тему 'A renomada cortesã como heroína de uma narrativa ideológica cristã? Implicações sociais e legais'

A renomada cortesã como heroína de uma narrativa ideológica cristã? Implicações sociais e legais Текст научной статьи по специальности «Философия, этика, религиоведение»

CC BY
36
4
i Надоели баннеры? Вы всегда можете отключить рекламу.
Ключевые слова
quadro ideológico cristão do mundo / literatura cristã primitiva / apologética / gênero / ascetismo / licenciosidade sexual / hetæras / Clemente de Alexandria / Arnóbio de Sicca / Atenágoras / Teófilo de Antioquia / Christian ideological picture of the world / early Christian literature / apologetics / gender / asceticism / sexual licentiousness / hetæras / Clement of Alexandria / Arnobius of Sicca / Athenagoras / Theophilus of Antioch

Аннотация научной статьи по философии, этике, религиоведению, автор научной работы — Maria Eduarda Oliveira, Beatriz M. Carvalho

Uma história de Lais de Corinto, a famosa cortesã grega antiga, foi feita parte central de um conto ideológico cristão composto por Clemente de Alexandria, Arnóbio de Sicca, Atenágoras e Teófilo de Antioquia, independentemente um do outro. Não obstante o caráter antinatural de tal história, esses apologistas cristãos criaram versões diferentes de "histórias" ideológicas em que mulheres pecadoras, "meretrizes" recebem a mesma bênção divina que as respeitadas matronas. Essas "histórias" foram usadas pelas primeiras comu-nas cristãs na época anterior a Constantin para manter um equilíbrio social entre leigos e adeptos monásticos.

i Надоели баннеры? Вы всегда можете отключить рекламу.
iНе можете найти то, что вам нужно? Попробуйте сервис подбора литературы.
i Надоели баннеры? Вы всегда можете отключить рекламу.

The Renowned Courtesan as a Heroine of a Christian Ideological Narrative? Social and Legal Implications

A story of Lais of Corinth, the famous ancient Greek courtesan, was made a central part of a Christian ideological tale composed by Clement of Alexandria, Arnobius of Sicca, Athenagoras and Theophilus of Antioch independently of each other. Notwithstanding a little unnatural character of such a tale, these Christian apologists created different versions of ideological “stories” where sinful women, “strumpets” receive the same divine blessing as respected matrons. These “stories” were used by the first Christian communes in pre-Constantine’s time to maintain a social balance of laymen and monastic adepts.

Текст научной работы на тему «A renomada cortesã como heroína de uma narrativa ideológica cristã? Implicações sociais e legais»

A renomada cortesa como heroína de uma narrativa ideológica crista? Implicaçôes sociais e legais

The Renowned Courtesan as a Heroine of a Christian Ideological Narrative? Social and Legal Implications

Maria Eduarda Oliveira1, Beatriz M. Carvalho

Maria Eduarda Oliveira,

BA, LLB, Journalist,

Observador Jurídico, Sao Paulo, Brazil

Мар1я Эдуарда Оливейра,

бакалавръ искусствъ, бакалавръ права,

журналистъ,

Обсервадоръ хуридику,

Сан-Паулу

(Бразил1я)

Beatriz M. Carvalho,

LLB (Roman Law); LLM (Civil Law),

Attorney,

Legal expert,

Ramos e Pereira Advogados LLC,

Sao Paulo,

Brazil

Беатрисъ М. Карвальу,

бакалавръ права, магистръ права, поверенный,

эксперт-юрист по гражданскому праву, Ramos e Pereira Advogados LLC, Сан-Паулу (Бразилiя)

Article No: 010410604

For citation (Chicago style) / Для цитировашя (стиль «Чикаго»):

In Portuguese:

Oliveira, Maria Eduarda, and Beatriz M. Carvalho. 2019. "A renomada cortesa como heroína de uma narrativa ideológica crista?" The Beacon: Journal for Studying Ideologies and Mental Dimensions 2, 010410604.

In English:

Oliveira, Maria Eduarda, and Beatriz M. Carvalho. 2019. "The renowned courtesan as a heroine of a Christian ideological narrative?" The Beacon: Journal for Studying Ideologies and Mental Dimensions 2, 010410604.

1 The Corresponding author. Please send the correspondence to e-mail: maria.edu_oliveira@yahoo.com.

Versions in different languages available online: Portuguese, Russian. Permanent URL links to the article:

http://thebeacon.ru/pdf/Vol.%202.%20Issue%201.%20010410604%20POR.pdf

Received in the original form: 16 January 2019 Review cycles: 2

1st review cycle ready: 21 March 2019 Review outcome: 3 of 3 positive Decision: To publish with considerable revisions 2nd review cycle ready: 28 May 2019 Accepted: 30 May 2019 Published online: 31 May 2019

ABSTRACT

Maria Eduarda Oliveira, Beatriz M. Carvalho. The renowned courtesan as a heroine of a Christian ideological narrative? Social and Legal Implications. A story of Lais of Corinth, the famous ancient Greek courtesan, was made a central part of a Christian ideological tale composed by Clement of Alexandria, Arnobius of Sicca, Athenagoras and Theophilus of Antioch independently of each other. Notwithstanding a little unnatural character of such a tale, these Christian apologists created different versions of ideological "stories" where sinful women, "strumpets" receive the same divine blessing as respected matrons. These "stories" were used by the first Christian communes in pre-Constantine's time to maintain a social balance of laymen and monastic adepts.

Key words: Christian ideological picture of the world, early Christian literature, apologetics, gender, asceticism, sexual licentiousness, heteras, Clement of Alexandria, Arnobius of Sicca, Athenagoras, Theophilus of Anti-och

RESUMO

Maria Eduarda Oliveira, Beatriz M. Carvalho. A renomada cortesa como heroína de uma narrativa ideológica crista? Implicaçoes sociais e legais. Uma historia de Lais de Corinto, a famosa cortesa grega antiga, foi feita parte central de um conto ideológico cristao composto por Clemente de Alexandria, Arnóbio de Sicca, Atenágoras e Teófilo de Antioquia, inde-pendentemente um do outro. Nao obstante o caráter antinatural de tal historia, esses apologistas cristaos criaram versöes diferentes de

"historias" ideológicas em que mulheres pecadoras, "meretrizes" recebem a mesma benfáo divina que as respeitadas matronas. Essas "historias" fo-ram usadas pelas primeiras comunas cristás na época anterior a Constantin para manter um equilibrio social entre leigos e adeptos monásticos.

Palavras-chave: quadro ideológico cristáo do mundo, literatura cristá primitiva, apologética, genero, ascetismo, licenciosidade sexual, heteras, Clemente de Alexandria, Arnóbio de Sicca, Atenágoras, Teófilo de Antioquia

РЕЗЮМЕ

Марiя Эдуарда Олпвепра, Беатрисъ М. Карвальу. Знаменитая куртизанка какъ героиня христ1анскаго идеологическаго нарратива? Соц1альныя и правовыя импликаци. Исторiя Лаисъ Коринеской, знаменитой древнегреческой куртизанки, была использована въ качеств- центральной части христанской идеологической исторИ, составленной Климентомъ Александрйскимъ, Арнобiемъ Сиккйскимъ, Афинагоромъ и беофиломъ Антюхйскимъ независимо другъ отъ друга. Несмотря на несколько неестественный характеръ объединеНя разсказа о блудниц- и праведномъ образ-Ь жизни, эти хриспансме апологеты создали различныя версiи идеологическихъ "исторг", въ которыхъ грЬшныя женщины, "падшня развратницы" получали то же божественное благословеНе, что и уважаемыя матроны. ЭтЬ "исторИ" использовались первыми христiанскими общинами въ первые вЬка до легализацiи христанства императоромъ Константиномъ для поддержаНя соцальнаго равновЪая между мiрскимъ идеаломъ жизненнаго пути и монашескимъ подвигомъ.

Ключевым слова: христанская идеологическая картина мiра, раннехристiанская литература, апологетика, гендеръ, аскетизмъ, монашество, сексуальная распущенность, гетеры, Климентъ Александрйсмй, Арнобiй, Афинагоръ, беофиль Антюхйсмй

INTRODUÇÂO

GÉNERO TEMA FOI MUITO IMPORTANTE NA PRIMITIVA PREGAÇÂO. Muitos apologistas cristâos deram a este tema a atençâo suficiente. Para nós, agora, isso nâo é compreensível. No entanto, para os primeiros cristâos, a pergunta sobre qual é o papel dos homens e mulheres da salvaçâo eterna e o tempo de vida, foi extremamente importante. Os primeiros escritores da igreja lembraram-se em suas obras literárias, as palavras do Salvador sobre o casamento e a virgindade (Mt. 19:10-12) (Bayliss 2014, 266). O fato é que a frase de Cristo ambigua. Jesus nâo deu uma resposta clara para a pergunta, que tipo de vida mais justo e agradável a Deus: virgem ou de casal. Cristo nâo fez uma seleçâo específica para futuros cristâos.

Uma série dos primeiros cristâos estabeleceram a aprovaçâo de Jesus virgindade em um

limite de grau. Eles rejeitaram o intercourse sexual como pecado vil e contrário a Deus (Hunt 2003, 27). Esses pontos de vista relacionados com a media platonismo, Escola pitagórica, gnosticismo de Marcion e Maniqueísmo. Isso por que o cristianismo deu origem a diversos excessos. Montanus, Tertuliano, Tatianus o Sírio e Orígenes, em seus sermoes, sao brilhantes modelos desse tipo de rela^ao ao tema de genero. Mas havia também o oposto extremo. O diácono Nicolau de Antioquia, Balaao, Carpocrates, Epifanes e outros membros da seita de Nicolau se entregaram a loucura devassidao, orgias e todo tipo de perversao sexual, incluindo rela^oes sexuais em grupo, poliandria, poligamia, socializado de esposas e maridos. Ao mesmo tempo, eles pregaram que com essas loucuras uma pessoa pode servir a Deus (Kruger 2018, 60-61). Paralelamente, desenvolveu-se uma abordagem monástica especial para salvar a alma. Nessa abordagem, as palavras de Jesus foram interpretadas como louvor ao casamento, mas louvor ainda maior á abstinencia sexual e á rejei^ao fundamental da vida conjugal. O casamento nao foi criticado (Harmless 2004). Era necessário compreender todas essas tendencias e renunciar a seitas radicais. Se todos os cristaos escolhessem a vida monástica, a igreja crista logo perderia todos os seus membros. Isso nao pode ser permitido (Arnobius 1871, 11). Portanto, os primeiros apologistas cristaos agiram como uma espécie de "árbitros". De fato, a tarefa deles era compor certas "histórias" ideológicas, que legalizariam uma certa escolha "média". Essa escolha do caminho da vida para um cristao comum deveria estar livre dos extremos de absoluta abstinencia monástica e perversoes sexuais. As "histórias" ideológicas pretendiam mostrar ao cristao comum que o amor erótico humano nao é cruel nem pecaminoso. É uma manifestado do amor divino.

Os apologistas cristaos Clemente de Alexandria, Arnóbio, Atenágoras, Teófilos de Antioquia sao os autores de tais histórias ideológicas. Eles usaram as histórias de cortesas gregas antigas, especialmente uma das cortesas mais famosas, Lais de Corinto, como o núcleo semántico de suas narrativas ideológicas. Se Deus aceita até pecadores como a cortesa Lais, entao o caminho de uma pessoa mundana comum nao pode ser nojento para Deus. Esse pensamento foi o apelo ideológico desses quatro autores cristaos.

No artigo, tentaremos descobrir o lugar e o papel dessa cortesa na ideologia do caminho "intermediário", o caminho do casamento cristao. Isso nos permitirá entender como os apologistas, usando o desenvolvimento de uma nova ideologia crista, tentaram conciliar amor erótico e ascetismo em comunidades cristas antigas.

LAIS COMO UMA PESSOA REAL

EM SUAS NARRATIVAS IDEOLÓGICAS, os apologistas descrevem a imagem coletiva da hetera ou diretamente Lais de Corinto. A própria Lais pode aparecer em seus escritos ideológicos como um personagem individual real ou como um símbolo da hetera em geral.

Des. 1. Nicolas André Monsiaux (1754-1837). O debate de Sócrates e Aspasia. Aspasia, esposa de Péricles, foi uma das cortesas atenienses mais famosas.

Fig. 1. Nicolas André Monsiaux (1754-1837). The Debate of Socrates and Aspasia. Aspasia, Pericles's wife, was one of the most famous Athenian courtesans. © The Pushkin State Museum of Fine Arts, Moscow, Russia

Lais, a "garota corintia", era considerada a hetera mais famosa de Corinto. Nao é por acaso que ela é a heroína principal das "histórias" ideológicas dos apologistas. Segundo fontes clássicas, Lais era uma sacerdotisa de Afrodite em sua juventude. Com o tempo, ela se tornou sacerdotisa sénior. No entanto, mais tarde ela terminou de realizar rituais sagrados, talvez para servir mais livremente a si mesma e a sua carteira2 (Bloch 2013, 833-835). Às vezes, as circunstâncias da vida dessa mulher sao dificeis de recuperar, pois

2 P.e. Athen. Deipnosophistœ, 12; Aristoph. Plutus; Plut. Alcibiad.

algumas vezes dados conflitantes sâo fornecidos em várias fontes clássicas.

Os apologistas cristâos, falando sobre Lais, citam, recordam e recontam autores clássicos. Freqüentemente, comentários éticos se relacionam com circunstâncias conflitantes da vida da hetera. Alguns pesquisadores, por exemplo, Mitchell Carroll, argumentam que no século IV aC dois heteras famosas viveu com o mesmo nome Lais (Carroll 2018, 150). No entanto, as descriçôes de eventos relacionados a diferentes mulheres chamadas Lais às vezes sâo fortemente entrelaçadas. Às vezes, é difícil entender se estamos falando sobre o Lais mais velho, que viveu na virada dos séculos V-IV aC, ou o Lais mais jovem, contemporáneo de Demóstenes.

Provavelmente, havia realmente duas mulheres chamadas Lais. Caso contrário, nâo está claro como conciliar com o tempo as histórias da vida de Lais relacionadas a Demóstenes e o campeâo olímpico Eubot. Essas histórias têm pelo menos 40 anos de diferença. No entanto, no artigo, usaremos uma única imagem coletiva da hetera Lais sem tentar distinguir entre pessoas históricas reais, uma vez que em seus escritos ideológicos os apologistas descrevem uma imagem generalizada dessa mulher.

HETERAS CORÍNTIAS E MINISTÉRIO A AFRODITE

POR QUE OS APOLOGISTAS PRESTAM ATENÇÂO SUFICIENTE A CORINTO, o templo de Afrodite e as heteras de Corinto?

No final do século I Corinto se tornou o segundo centro mais importante do cristianismo no império. Isso é enfatizado pelo apóstolo de setenta Clemente de Roma em suas "Epístolas aos Corintios"3. No inicio do século IV aC, a velha Corinto (antes da destruiçâo pelas tropas da República Romana) era famosa como uma cidade de loucura, dinheiro louco, entretenimento requintado, diversâo emocional e carnal, hedonismo e prostituiçâo sagrada (e também profana) (Burckhardt 1998, cap. V ). Aristófanes, em seus "Sapos", até inventou o neologismo KopivOiáZopai, ou seja, chicotear, andar, fornicar, entrar em prazeres carnais4 (Roochnik 2003, 54). O templo de Afrodite, segundo Strabo, era o centro estético de Hellas, atraindo intelectuais, poetas, retóricos, filósofos, escultores e pessoas simplesmente ricas:

Corinto é chamado de "rico" por causa de seu comércio, uma vez que está situado no istmo e é dono de dois portos, dos quais um leva direto para a Ásia e o outro para a Itália; e facilita a troca de mercadorias dos dois países que estâo tâo distantes um do outro. E, como nos primeiros tempos o estreito da Sicília nâo era fácil de navegar, também o alto mar, e particularmente o mar além de Maleae, nâo eram, devido aos ventos contrários; e daí o provérbio: "Mas quando você dobrar Maleae, esqueça sua casa." De qualquer forma, era uma alternativa bem-vinda, para os comerciantes da Itália

3 Clem. Rom. 1 Cor., 1-2; 2 Cor., 5-6.

4 Aristoph. Ranœ, 133. A traduçâo do grego antigo para o portugués é nossa.

e da Ásia, evitar a viagem para Maleae e desembarcar suas cargas aqui. E também os impostos sobre o que por terra foi exportado do Peloponeso e o que foi importado para ele recaíram sobre aqueles que possuíam as chaves. E, posteriormente, isso permaneceu sempre. Mas, para os coríntios dos tempos posteriores, foram acrescentadas vantagens ainda maiores, pois também os Jogos Istmicos, que eram celebrados ali, costumavam atrair multidoes. E os Bacchiadae, uma família rica, numerosa e ilustre, tornaram-se tiranos de Corinto, e mantiveram seu império por quase duzentos anos, e sem perturbares colheram os frutos do comércio; e quando Cypselus os derrubou, ele se tornou tirano, e sua casa durou tres geragoes; e uma evidencia da riqueza desta casa é a oferta que Cypselus dedicou em Olympia, uma enorme estátua de ouro batido. Mais uma vez, Demaratus, um dos homens que estivera no poder em Corinto, fugindo das sentengas de lá, carregava com ele tanta riqueza de sua casa para Tirreno, que nao apenas ele próprio se tornou o governante da cidade que o admitia, mas também seus filho foi feito rei dos romanos. E o templo de Afrodite era tao rico que possuía mais de mil escravos do templo, cortesas, que homens e mulheres haviam dedicado á deusa. E, portanto, também era por causa dessas mulheres que a cidade estava cheia de gente e ficou rica; por exemplo, os capitaes dos navios desperdigavam livremente seu dinheiro e, portanto, o provérbio "Nao é para todo homem a viagem a Corinto". Além disso, está registrado que certa cortesa disse á mulher que a censurou com a acusagao de que ela nao gostava de trabalhar ou tocar em la: "No entanto, como eu sou, neste curto espago de tempo derrubei tres teias"5.

Ao mesmo tempo, o novo Corinto romano herdou a glória do antigo. O turbilhao da vida coríntia com diversoes e brincadeiras, como observa Jacob Christoph Burkhardt, passou literalmente diante dos olhos dos cristaos e em muitos deles causou grandes tentagoes (Burckhardt 1998, cap. VI).

Aparentemente, em Corinto, na grande metrópole do império, com uma populagao de cerca de 1 milhao de pessoas até o final do século I, bem como em Alexandria, na qual os seguidores da seita de Nicolau viviam, muitos cristaos tendiam ao caminho da vida depravada e pródiga. Muitos consideraram o eros um benefício absoluto. Muitos levaram a lógica paga do servigo de Afrodite para um novo terreno cristao, sem ver uma diferenga significativa.

Os apologistas chamaram a atengao para a impossibilidade dessa cópia. Assim, no livro 3, "Epístolas a Autólito", Teófilo de Antioquia discute a inadmissibilidade da hipertrofia do amor erótico nas comunidades cristas. Ele se volta para o tema das heteras do templo de Corinto e menciona que as sacerdotisas de Afrodite tinham uma tradigao obscena de preservar os códigos escritos de seus sagrados rituais voluptuosos de sacrifício á deusa do amor. Isso por si só pode indicar a inaceitabilidade de tal caminho de servigo a Cristo: oúxi Kai nspi as^vÓTpToq nsipú^svoi YPá^siv áasÁyeíaq Kai nopvsíaq Kai |ioixsíaq é5í5a£av éniTEÁsIaGai, é'tl |ipv Kai Taq aTUYPTaq áppnTonoi'íaq síapYnaavTO6. Teófilo escreve sobre o

5 Strab. Geographica, 8, 6, 20.

6 Theoph. Antioch. npoo Autoàukov, 3, 3.

culto das divindades olímpicas gregas com um senso de desprezo. Em seu relato ideológico da corre^ao de um casamento cristao, ele escreve sobre o ministério de Afrodite com duplo desprezo.

Des. 2. Henryk Hector Siemiradzki (1843-1902). Sócrates encontra seu aluno Alcibades com uma hetera.

Fig. 2. Henryk Hector Siemiradzki (1843-1902). Socrates finds his student Alcibades with a hetaera. © The Art Renewal Center, Port Reading, New Jersey, USA

Apesar das reservas sobre a castidade, Teófilo descreve com detalhes suficientes as características da prostituido sagrada. Talvez ele fa^a isso para despertar um sentimento de vergonha e remorso nos cristäos seduzidos. Assim, Teófilo na passagem seguinte atribui a Hera as práticas orais das sacerdotisas corintias de Afrodite:

<...> Kai npúxouq y£ xoüq 9soüq aüxúv Kqpúaaouaiv év appqxoiq ^í^saiv auYYívsa9ai sv i£ á9éa|ioiq ßpüasaiv... xqv i£ "Hpav í5íav áSsA^qv aüxoü l^óvov xov Aía Ya^sív, áAAa Kai 5ia axó^aioq áváYvou áppnxonoisív; xáq i£ Aoinaq nspi aüxoü npá^aq, ónóaaq aSouaiv oí noiqxai, sÍKÓq éníaxaaai. tí |aoi Aoinov KaxaAÉY£iv xa nspi noaaSúvoq Kai AnóAAuvoq p Aiovüaou Kai 'HpaKAéouq, A9pváq xpq ^iAo^óAnou Kai A^poSíxpq xpq ávaiaxüvxou, aKpißsaxspov nsnoipKóxuv p|iúv év éxépu xov nspi aüxúv Aóyov.7 <...>

7 Ibid.

Sobre as mesmas palavras e para os mesmos propósitos, os rituais sexuais das hetaras no templo corintios sâo descritos por Arnobius Afer de Sikka, outro apologista cristâo do século III, que escreveu em latim:

<...> Idcirco animas misit, ut in maribus exsoleti, in feminis fierent meretrices sambucistriae psaltriae, venalia ut prosternerent corpora, virilitatem sui populo publicarent, in lupanaribus promptae, in fornicibus obvitae, nihil pati rennuentes et ad oris stuprum paratae8? <...>

Teófilo e Arnóbio, como vemos, sâo especialmente detestados pela prática oral das heteras. Embora nâo esteja totalmente claro quando Teófilo diz, "mas ela fez ao deus com uma boca nâo casta que nâo pode ser expresso" (àЛЛà Kai 5ià aró^a^c àvàYvou àppптoпol8Îv), e Arnobius escreve "et ad oris stuprum paratae": Os apologistas queriam dizer relaçôes sexuais com homens e mulheres adultos que sacrificam Afrodite, ou o rito pagâo de iniciaçâo para garotas dedicadas a Afrodite, como ritos sapphic nos cultos de Cybele e Artemis (Katz 2003, 35)?

Como vocé pode ver, Arnóbio chama facilmente o templo de Afrodite de bordel. No entanto, ele observa que nas práticas do templo do ministério de Afrodite, havia um ritual de tocar sacerdotisas em instrumentos musicais. Isso exalta essas mulheres no contexto da estética e da arte. É claro que Teófilo e Arnóbio condenam as heteras. No entanto, eles condenam a prostituiçâo no templo e o ministério ritual das heteras, e nâo a si mesmos. Por esse motivo, os dois apologistas descrevem em detalhes os rituais voluptuosos no templo de Afrodite, separando as próprias mulheres de seus rituais, do que é "embaraçoso até mesmo expressar". Mas os apologistas nâo esquecem sua missâo ideológica. Eles admitem uma esséncia inicialmente intocada nessas mulheres. Ambos os apologistas tém uma idéia de que Deus originalmente colocou almas puras e boas aspiraçôes nessas mulheres corintias.

HETERA LAIS COMO UM PROTÓTIPO DE AFRODITE

Atenágoras de Atenas usa a imagem DE Lais para ilustrar a relaçâo direta das heteras com Afrodite em um contexto estético. Suas "histórias" ideológicas sobre a correçâo do matrimonio cristâo estâo mais intimamente relacionadas à arte.

Para Atenágoras, é importante criticar o antropomorfismo de Afrodite, bem como outras divindades olimpicas. Lais para ele é um exemplo de como a imagem visual de uma mulher foi transformada na imagem da deusa do amor9. Em sua principal obra homilética "Em-baixada para Cristâos", esse apologista nâo apenas chama a atençâo para o antropomorfismo estético dos deuses (por exemplo, ele menciona estátuas de Afrodite esculpidas

8 Arnob. Adv. Gent., 2, 42.

9 Athenag. Leg., 17.

por escultores com éteres). Ele também usa a lógica do euhemerismo. Atenágoras ás vezes critica o fetichismo exibido pelos homens de Corinto. Ele critica a adoragao das heteras coríntias por homens, comparável á adoragao sagrada de Afrodite.

Aparentemente, Atenágoras mistura as imagens de Lais e Frina de Thespia. Como voce sabe, foi Frina, a rival de Lais, que serviu de modelo para muitos de seus amantes, escultores e artistas famosos da Grécia, esculpindo estátuas e pintando imagens de Afrodite, por exemplo, Apelles e Praxiteles (McClure 2003, 127). Embora nao seja um erro supor que Lais de Corinto também possa servir de protótipo para algumas imagens menos conhecidas de Afrodite.

Des. 3. Angelika Kaufmann (1741-1807). O escultor Praxiteles está oferecendo uma estátua de Cupido a Phryne. Phryne era a rival principal de Lais.

Fig. 3. Angelika Kaufmann (1741-1807). Sculptor Praxiteles is offering a statue of Cupid to Phryne. Phryne was the major rival of Lais.

© The Art Renewal Center, Port Reading, New Jersey, USA

Atenágoras cita o ditado: "E a prostituta ensina as justas". Ele quer dizer que, afastada da prostituigäo sagrada e do servigo de Afrodite, uma mulher como hetera Lais de Corinto, cujo comportamento era repreensível do ponto de vista da moralidade pagä, sem mencionar

a moralidade cristâ, poderia muito bem ensinar aqueles "sonhadores cristâos que profanam a carne" (Judas 1:8), ou seja, seguidores de Nicolau e Balaâo e cristâos que concordam com eles, que se entregavam a orgias e deboche para servir a Jesus. Sobre as sacerdotisas do templo, que, diferentemente de Lais, nâo desistiram de sua vergonhosa busca, Atenágoras diz que, embora tenham grande beleza e graça corporais, violam vilmente a dignidade externa que Jesus lhes deu e, assim, pecam mortalmente contra o verdadeiro Deus, contra Céu, porque, como observa o pregador, nâo há beleza no mundo em si que apareça fora dos pensamentos de Deus e de Sua mâo. Em suas "histórias" ideológicas sobre o casamento, Atenágoras permite um máximo de um casamento na vida de um cristâo.

CONCLUSÄO

Estávamos convencidos de que, para resolver o problema de reunir os primeiros cristâos em torno da idéia de um matrimonio cristâo secular que enfrenta bruscamente as comunidades das igrejas cristâs primitivas dos séculos I e III, os apologistas Clemente de Alexandria, Teófilo de Antioquia, Atenágoras de Atenas e Arnóbio descrevem em suas "histórias" ideológicas prostituiçâo de culto, o templo de Afrodite em Corinto e as sacerdotisas do templo, incluindo Lais de Corinto. Eles fazem isso com base em citaçôes, alusôes, paráfrases e reminiscéncias de autores clássicos nâo-cristâos. Um lugar especial nos escritos dos apologistas é a imagem do famoso getter coríntio Lais.

Para Teófilo e Arnóbio, é importante enfatizar a inadmissibilidade dos cristâos levarem ao absurdo a sacralidade do eros humano. Tais excessos, sem dúvida, levarâo a prom-iscuidade, perversôes, licenciosidade sexual e devassidâo, como o que foi feito no templo de Afrodite pelos heteras e "crentes" que vieram a este templo. Os cristâos nâo devem considerar um eros tâo louco salvando suas almas. Acreditamos que é para esse fim que Teófilo e Arnóbio, em suas "histórias" ideológicas, traçam numerosos paralelos entre as atividades eróticas obscenas dos seguidores da seita de Nikolau Antioquia e as práticas sexuais rituais das sacerdotisas coríntias Afrodite semelhantes a elas. Nâo obstante, a imagem de Lais de Corinto nas obras de apologistas se destaca das heteras do templo. Devido ao fato de que essa mulher se aposentou da prostituiçâo de culto, sua person-alidade adquire um caráter positivo e edificante em seus escritos. Para Clement, a história de vida dessa mulher é mais interessante e Atenágoras está interessada na conexâo de Lais com a estética da criaçâo de estátuas de Afrodite.

Lais nâo é uma heroína negativa entre os apologistas. Em seus escritos ideológicos, eles simpatizam com essa mulher e condenam o período de sua vida em que ela era sacerdotisa do amor no templo. Frequentemente eles mostram uma tolerância muito maior a Lais do que poetas e historiadores pagâos. Eles fazem isso para provar aos membros comuns das primeiras comunidades cristâs que o monaquismo está longe de ser sempre a melhor escolha na vida. As "histórias" ideológicas compostas pelos quatro apologistas instruídos

sao obras literárias completas, adequadas para ler e ensinar novos membros das comunidades cristas. Tanto o caminho da devassidao sexual quanto o caminho das austeridades monásticas nao devem se tornar a norma para os cristaos.

As historias ideológicas dos apologistas "ensinaram" aos cristaos que o melhor é o caminho "intermediário", o caminho do casamento cristao secular.

Funding. This work was funded by Ramos e Pereira Advogados LLC (private company).

Conflicts of interest. None declared.

Arnobius. 1871. The Seven Books of Arnobius Adversus Gentes. Trans. by Archbishop Hamilton Bryce and Hugh Campbell. Edinburgh: T & T Clark.

iНе можете найти то, что вам нужно? Попробуйте сервис подбора литературы.

Bayliss, Andrew J. 2014. "Artful dodging, or the sidestepping of oaths." in Oaths and

Swearing in Ancient Greece, edited by Alan H. Sommerstein and Isabelle C. Torrance, 243-280, Berlin: De Gruyter.

Bloch, Ivan. 2013. Die Prostitution. Charleston, SC: Nabu Press. In German.

Burckhardt, Jacob Christoph. 1998. The Greeks and Greek Civilization. New York: St Martins Griffin.

Carroll, Mitchell. 2017. Woman in All Ages and in All Countries. Vol. 1. Greek Women. First publ. 1907. London: Outlook.

Harmless, William. 2004. Desert Christians: An Introduction to the Literature of Early Mo-nasticism. Oxford: Oxford University Press.

Hunt, Emily J. 2003. Christianity in the Second Century: The Case of Tatian. London: Routledge.

Katz, Marilyn. 2003. "Ideology and 'the Status of Women' in Ancient Greece." In Sex and Difference in Ancient Greece and Rome, edited by Mark Golden and Peter Toohey, 30-43, Edinburg: Edinburg University Press.

Kruger, Michael J. 2018. Christianity at the Crossroads: How the Second Century Shaped the Future of the Church. Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

McClure, Laura K. 2003. Courtesans at Table: Gender and Greek Literary Cutture in Ath-enaeus. New York: Routledge.

Rice, Daryl H. 1998. A Guide to Plato's Republic. Oxford: Oxford University Press.

Roochnik, David. 2003. Beautiful City. The Dialectical Character of Plato's "Republic". Ithaca, NY: Cornell University Press.

REFERENCES

EXTENDED SUMMARY

Oliveira, Maria Eduarda, and Beatriz M. Carvalho. The renowned courtesan as a heroine of a Christian ideological narrative? Implicates sociais e legais. One of the important homiletic themes of early Christian apologists is the question of erotic love and asceticism as possible ways of serving God. A number of the first Christians of the second - early fourth centuries, influenced by Marcion's Gnosticism, viewed any sexual intercourse as a sin and therefore considered it a prohibited thing for their lives, even an abomination. On the other hand, some other Christians, following the example of the heretical sect of the Nicolaitans, fell into the opposite extreme, debauchery, perversions and sexual immorality. Gradually these followers of Nicolaitans caused an universal opposition of the early Church communes in Alexandria, Corinth and Antioch. Their bad example shifted a balance strongly towards the ideal of monastic life. With the fervent instances of the first monasteries inhabitants, the overwhelming majority of members of the first Christian communities in Mediterranean region also began to incline towards rejecting and abandoning their families and joining the monasteries. The primitive Christian Church faced a real threat of vanishing because of the widespread, almost universal choice of monastic way of life. By the end of the second century, there was an urgent need in an innovative ideological "story" that would prevent the majority of Church members from both the monastic asceticism and lechery. Christian apologists Clement of Alexandria, Arnobius, Athenagoras, and Theophilus of Antioch created different versions of such ideological tales to elaborate a "middle" way by reconciling sexual austerity and marriage. In their ideological work, they rallied common Church members around the idea of Christian marriage as the best lifestyle.

In their "stories," the apologists in question utilised the topic of ancient Greek priest-esses-hetaeras that served the cult of Aphrodite. They used either the generalised character of a hetaerae, or the personified one, Lais of Corinth.

The ideological plot was as follows. Lais, once one of the renowned courtesans of ancient Greece, gradually repudiated her sinful life and turned to marriage. In the "stories" intended for the ordinary Christians, it was highlighted that if God accepts even such sinners as the courtesan Lais, then the way of a worldly person that would like to marry, cannot be disgusting to God. This ideological appeal of the four Christian authors to the Church members resulted in diminishing the number of people tending to monastic life.

For Theophilus and Arnobius, it is important to stress the impossibility for Christians of bringing the sacredness of human eros to the point of absurdity. Such excesses will undoubtedly lead to promiscuity, perversions, sexual lasciviousness and debauchery, alike the excesses performed in the temple of Aphrodite by hetaeras-priestesses and "believers" who came to this temple "to lay these hetaeras to Aphrodite," i.e. to commit sacred prostitution, the act of carnal intercourse with hetaeras in front of an Aphrodite image in the temple. Christians should not consider this "dirty", reproachful, sinful eros as a way to save their souls. The authors of the paper believe that it is for this purpose that Theophilus and Arnobius, in their ideological "stories", draw numerous parallels between the obscene erotic activities of the followers of the sect of Nicholas of Antioch and similar ritual sexual practices of the Corinthian priestesses of Aphrodite. Nevertheless, the image of Lais Corinthian in the works of the apologists discussed stands apart from most of the temple hetaeras. Due to the fact that this woman has retired from cult

prostitution, her personality acquires a positive and instructive character in the ideological "stories" that emphasised the "proper choice" of marriage. For Clement of Alexandria, the very story of Lais's life is interesting, and Athenagoras deals with the connection of Lais's image with the aesthetics of statues of Aphrodite.

Authors / Авторы

1. Maria Eduarda Oliveira is a Brazilian journalist and law researcher residing in Sao Paulo. She graduated with BA and subsequently LLB degrees. Now she is occupied primarily with studying ideological methods and techniques of rallying people around different social movements in modern times.

Maria Eduarda Oliveira,

Observador Jurídico,

875 R. Gomes de Carvalho,

Vila Olimpia,

Sao Paulo, 04547-003

Brazil

2. Beatriz M. Carvalho is a Brazilian legal consultant and advisor. She received her LLB in Roman law and LLM in modern civil law. That enables her to combine activities as a jurist (attorney) and scholar. As a researcher, she is mainly interested in studying civil rights in ancient Roman and Greek societies, from the oldest polises to the late Roman empire.

Beatriz M. Carvalho,

Ramos e Pereira Advogados LLC, 475 R. Conselheiro Furtado, Liberdade,

Sao Paulo, 01511-000 Brazil

© Maria Eduarda Oliveira; Beatriz M. Carvalho

Licensee The Beacon: Journal for Studying Ideologies and Mental Dimensions

Licensing the materials published is made according to Creative Commons Attribution 4.0 International (CC BY 4.0) licence

i Надоели баннеры? Вы всегда можете отключить рекламу.