Научная статья на тему 'DO PCDOB AO PCBLZ: MUSA POP E NOVA LINGUAGEM NA POLíTICA NACIONAL'

DO PCDOB AO PCBLZ: MUSA POP E NOVA LINGUAGEM NA POLíTICA NACIONAL Текст научной статьи по специальности «СМИ (медиа) и массовые коммуникации»

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PROPAGANDA POLíTICA / PUBLICIDADE ELEITORAL / COMUNICAçãO POLíTICA / PCDOB / MANUELA D'ÁVILA

Аннотация научной статьи по СМИ (медиа) и массовым коммуникациям, автор научной работы — Fontana Graminho Viviane

Este estudo trata das mudanças do discurso ocorridas no mais antigo partido político brasileiro, o PCdoB, que já completou 82 anos de existência. Seu discurso sempre se caracterizou pela sisudez e pelo radicalismo, até um pouco agressivo. Através de sua nova atração, a jovem política Manuela D’Ávila, a deputada mais votada no RGS, inovou sua linguagem. É o que nos propomos: detectar, tendo como referência os estudos da comunicação, a partir de uma análise do seu discurso, as inovações e novidades apresentadas na contemporaneidade.

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Текст научной работы на тему «DO PCDOB AO PCBLZ: MUSA POP E NOVA LINGUAGEM NA POLíTICA NACIONAL»

Do PCdoB ao PCBlz: musa pop e nova linguagem na política nacional*

Del PCdoB al PCBlz: musa pop y nuevo lenguaje en la política

nacional

PCdoB to PCBlz: pop muse and new language in national politics

Neusa Demartini Gomes** Viviane Fontana Graminho***

Resumo: Este estudo trata das mudangas do discurso ocorridas no mais antigo partido político brasileiro, o PCdoB, que já completou 82 anos de existencia. Seu discurso sempre se caracterizou pela sisudez e pelo radicalismo, até um pouco agressivo. Através de sua nova atragao, a jovem política Manuela D'Ávila, a deputada mais votada no RGS, inovou sua linguagem. E o que nos propomos: detectar, tendo como referencia os estudos da comunicagao, a partir de uma análise do seu discurso, as inovagoes e novidades apresentadas na contemporaneidade.

Palavras chave: Propaganda Política; Publicidade Eleitoral; Comunicagao Política; PCdoB; Manuela D'Ávila

Resumen: Este trabajo trata de los cambios ocurridos en el discurso de uno de los más antiguos partidos políticos de Brasil, el PCdoB, que ya cuenta com 82 años de existencia. Su discurso siempre se caracterizó por la sesudez y radicalidad de sus planteamientos, estimándose hasta um poco agresivo. Sin embargo, por medio de su nueva figura, la joven política Manuela D'Ávila, la diputada más votada en Rio Grande do Sul, su lenguaje se ha innovado, de modo que aqui nos proponemos detectar, teniendo como referencia los estudios de comunicación y de análisis del discurso, las innovaciones y novedades sobrevenidas por la contemporaneidad.

Palabras Clave: Propaganda política; Publicidad electoral: Comunicación política; PCdoB; Manuela D'Ávila

Abstract: This paper deals with changes in the speech of one of the oldest political parties in Brazil, the PCdoB, now with 82 years of existence. His speech was characterized by long sesudez and radical approaches, estimated to a little aggressive. However, through its new form, the young political

* Comunicagao ao XXXI Congresso Brasileiro de Ciencias da Comunicagao — Natal, RN — 2 a 6 de setembro de 2008 La expresión Blz en el título, corresponde a las consonantes de Belleza, calificativo publicitario que acompañó la campaña de la diputada María D'Avila. Nota del editor

** Brasileira, Doutora em Comunicagao pela Universidade Complutense de Madrid, Professora no PPGCOM/PUCRS, [email protected]

*** Brasileira, Jornalista, Pós-graduada em Comunicagao Política pela UNISC, [email protected]

Manuela D'Ávila, the most popular in Rio Grande do Sul, has been innovated their language, so here we aim to detect, based on studies of communication and of discourse analysis, innovations and developments occurring in contemporary

Keywords: Propaganda; Electoral Advertising: Political Communication; PCdoB; Manuela D'Ávila

a eficácia da política em nosso tempo depende fundamentalmente de que ela abandone ou repense os procedimentos tradicionais fundados no discurso e na interlocugao, em favor de outras estrategias de enunciagao e apresentagao mais adequadas á lógica dos meios de comunicagao social (GOMES, pág.31)

Introdujo

As mudangas no cenário político na contemporaneidade, na sociedade midiática, colocam diante dos estudiosos e pesquisadores o desafio de dar sentido e mostrar o rumo dessa mudanga. Para tratar deste tema, o das mudangas e alteragoes nas relagoes entre a política e os meios de comunicagao, e entre os políticos e os eleitores, recorremos a um estudo de caso que se deu no cenário político gaúcho, representado pela campanha da entao candidata (eleigoes de 2006) Manuela D'Ávila. A jovem, que concorreu a uma cadeira pelo PCdoB na Cámara Federal, obteve uma das maiores votagoes do Estado e, com uma figura acrescida de uma linguagem moderna, suave e feminina, mudou os habituais discursos radicais, duros e, por vezes, até furiosos de alguns políticos e políticas do mais antigo partido brasileiro.

Militante do movimento estudantil, Manuela foi eleita deputada federal com 271.939 votos, a deputada mais votada do Rio Grande do Sul, deixando para trás candidatos mais conhecidos dos eleitores e pertencentes a partidos políticos maiores e com mais tradigao no Estado. Já em 2004, a jovem comunista ingressava na vida política como candidata e se elegeu a vereadora mais jovem da capital gaúcha, com 9.498 votos.

A metodologia escolhida para analisar o caso é a Hermenéutica de Profundidade (HP), elaborada por John B. Thompson, por sua pertinéncia ao estudo proposto, que elege o estudo da produgao de sentido, através das Formas Simbólicas (FS), que de acordo com o autor sao agoes, falas, textos e imagens que servem para sustentar e estabelecer relagoes de poder. A análise pelo método da HP divide-se em trés fases: Análise Sócio Histórica (ASH); Análise Formal ou Discursiva (AD) e Interpretagao/Re-interpretagao.

O PCdoB: uma historia de mártires, clandestinos e, agora, o pop

Fundado em 1922, o Partido Comunista do Brasil é o partido mais antigo do país. Viveu 60 anos na clandestinidade. Em 1962 reorganizou-se, adotando a sigla PCdoB, e realçou sua marca revolucionária. Muito perseguido pelo regime militar, no fim da ditadura, alcançou a legalidade. Organizaçâo de esquerda que já foi muito influente no Brasil, nasceu como uma seçâo brasileira da Internacional Comunista, sob a liderança da, entâo, Uniâo Soviética. O partido foi fundado por nove delegados que representavam 73 comunistas constituídos, em sua maioria por egressos do movimento anarquista. Cerca de oito anos após sua fundaçâo, o partido assumiu a hegemonia do movimento sindical e manteve sua influencia até o inicio da década de 80, quando foram criadas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Confederaçâo Geral dos Trabalhadores (CGT). Portanto, desde a sua fundaçâo o principal papel do partido foi contribuir para a organizaçâo dos trabalhadores em sindicatos e associaçoes, coroando um processo que, a partir das mobilizaçoes operárias e grevistas do fim da primeira guerra, potencializadas pelo exemplo da Revoluçâo Russa de 1917, derivou na formaçâo de vários comunistas no Brasil.

Nas seis décadas de clandestinidade, foi perseguido duramente pelas forças conservadoras e pelas ditaduras do Estado Novo (1937-1945) e a militar (1964-1985). Na década de 1970, em defesa da democracia, organizou a Guerrilha do Araguaia. Levantou a bandeira da Anistia e fez estampar na Constituiçâo de 1945 o artigo que garantia a liberdade religiosa. Segundo sua militância, foi o partido que deu o maior número de mártires à causa da democracia e do socialismo. Por tudo isso, o PCdoB se diz um símbolo da luta pela liberdade e pelo direito dos trabalhadores no país.

Porém, já na década de 70 do século passado, o partido vinha perdendo sua força e expressâo no cenário político nacional, deixando de ser uma importante referencia, motivado pelo golpe de 64, que contribuiu para a fragmentaçâo e a criaçâo de dissidências e, já no VI Congresso, em 1967, foi sancionada a expulsâo de vários militantes.

(...) Deu-se uma grande fragmentaçâo da esquerda e outras influencias passaram a ter forças nos meios da esquerda no Brasil. Creio que, historicamente, o PCB terminou no final dos anos 70. Ele continuou a existir como uma força política, mas muito pequena e sem grande arranque. (GORENDER, pág. 172. 2005)

É necessário destacar que os dirigentes sindicais comunistas deixaram, no Brasil, nomes marcados nas lutas que resultaram, entre outras conquistas sociais, na adoçâo da jornada de oito horas de trabalho, na criaçâo do 13° salário, nos direitos previdenciários e na legislaçâo trabalhista da mulher e do menor. Também foram os comunistas os pioneiros na luta pela reforma agrária, sobretudo a partir de 1940, quando o PCB

organizou sindicatos de trabalhadores rurais em todo o Brasil e atuou em parceria ou em conflito com as Ligas Camponesas.

Nos tempos atuais, com pouca força política e representaçâo parlamentar reduzida, o Partido buscou adaptar-se á Idade Mídia como forma de sobrevivencia, pois "a questâo da conquista do voto passa, atualmente, pela oferta de performances, cujo núcleo de produçâo e de vitrinizaçâo se constituem nos mídias" (NETO, 1995.Pág. 45).

A Idade Mídia: as adequaçoes para a sobrevivencia, ou a descoberta de uma

nova era

Apesar das divergéncias de formulagoes, sao vários os autores que entendem a contemporaneidade como estruturada e ambientada pela mídia. Gomes entende que além dos mass midia , a relagao desse determinado modo de produgao pode tematizar uma nova "cultura".

Nos mass media, pelos mass media e com os mass media se constituí e veicula uma mentalidade, um conjunto de valores, um sem número de significados, uma certa lógica, uma forma de sociabilidade, etc. que hoje podem ser encontrados praticamente idénticos em quaisquer das sociedades do mundo, mesmo naquelas de capitalismo marginal. Desde é claro, que nestas se tenham já instaurado os meios de comunicado social e as formas de produgao capitalista. E de tal modo é a sua vinculagao aos mass media que podemos postular que fagam parte de um sistema cultural midiático, de uma" cultura "midiática. (Gomes,

pp.33-34).

Rubim (2001) entende que a contemporaneidade pode ser nomeada "Idade Mídia". Para tanto, o autor traça características da contemporaneidade e apresenta a comunicaçâo nao só como estruturante em nossa época, mas como "expressivo ambiente que envolve o mundo".

Segundo o autor, para definir a sociedade como estruturada e ambientada pela comunicaçâo, podem ser enumerados indicadores acerca da pertinência e da sintonia dessa nomeaçâo uma determinada sociedade. Tais variáveis devem ser consideradas,

constatadas e mesmo mensuradas para tornar possível a caracterizagao de uma sociedade como Idade Mídia:

Sua manifestagao, notável e tentacular, torna-se visível através: 1. da expansao quantitativa da comunicagao [...]; 2. da diversidade das mídias existentes; 3. da mediagao que realiza [...]; 4. da presenga e abrangencia das culturas midiáticas como circuito cultural dominante [...]; 5. da ressonáncia social da comunicagao midiatizada sobre a produgao da significagao (intelectiva) e da sensibilidade (afetiva), social e individual; 6. da prevalencia da mídia como esfera de publicizagao (hegemonica) na sociabilidade [...]; 7. da ampliagao vertiginosa dos setores voltados para a produgao, circulagao, difusao e consumo de bens simbólicos; 8. do crescimento (percentual) dos trabalhadores da informagao e da produgao simbólica [...]; 9. do alargamento do consumo e dos gastos, públicos e privados, com as comunicagoes. (RUBIM, p 119).

Portanto, se vivemos em uma época que pode ser identificada como Idade Mídia, podemos considerar que esta se forma a partir do modo de produgao capitalista e através dos meios de comunicagao, daí, a importáncia da publicidade e da propaganda, que unem produgao e meios de comunicagao de massa. Ainda conforme Rubim:

[...] Nos últimos anos, uma nova coadjuvante incomoda, inclusive porque parece nao se contentar com este papel secundário ameaga tomar a cena, pelo menos aquela dos debates eleitorais. Sua onipresenga significa poder. Poder que embriaga. Primeiro ocupa o palanque e o transforma em palanque eletronico. Agora parece querer instituir os partidos eletronicos, através do controle dos aparatos/aparelhos de comunicagao. Esta nova coadjuvante chama-se comunicagao. Ela nos coloca um enigma, sobretudo contemporáneo: as modernas relagoes entre política e comunicagao. Decifra-lo ou ser devorado por ele, eis a questao. (RUBIM, 1990. p 61)

A política na contemporaneidade prefere a tela as ruas. Nas campanhas eleitorais dedica o papel principal aos meios de comunicagao, em especial a televisao e, mais recentemente, a internet, este último o veículo adequado para a a relagao com o mundo dos jovens. Por suas abrangencias e impactos, estes dois meios deslocaram o comício ao vivo para um lugar coadjuvante. Seguindo o pensamento de Rubim, vemos que a Idade Mídia redimensionou a política, dando-lhe um re-significado, como uma política realizada em redes eletronicas, conforme Sartori, a telepolítica, através do surgimento de novos ingredientes políticos pela redefinigao do funcionamento e dos seus formatos, realizados em territórios, espagos geográficos determinados (aqui representados pela

metáfora da rua) pela virtualidade da sua possível absor^áo em redes midiáticas (definidas pela no^áo metafórica de tela).

Constata-se, na Idade Mídia, a necessidade da política repensar seus procedimentos de praxe e fazer as adequa^oes já que a comunicado de massa é decisiva para o ingresso no círculo da representado política, ou, no que dizemos popularmente "para se chegar ao poder" e, muito importante para "continuar nele". O deslocamento para a tela como um lugar privilegiado traz consigo uma forma diferente para apresentar ali, as campanhas eleitorais, pois náo há mais a possibilidade de restringir o tema á cobertura de fatos como passeatas, comícios, visitas e discursos. Nas telas e na visibilidade propiciada por elas, os programas e debates eleitorais fazem surgir novos acontecimentos políticos.

Manuela, a musa pop

"E aí, beleza?". O cumprimento, de apelo fácil e identificado com o eleitorado jovem, da entáo candidata Manuela D'Ávila foi um dos elementos mais fortes na campanha eleitoral no Rio Grande do Sul em 2006 e, provavelmente, o mais repetido pelos gauchos, demonstrando, conforme já nos ensinava BROWN, há algumas décadas atrás, sobre a eficácia da repeti^áo de temas: "O propagandista confia em que, se repetir uma afirma^áo muitas vezes, com o tempo ela será aceita por seu público. Uma varia^áo desta técnica é o uso de slogans e palavras-chave" (BROWN. 1963. p.28).

A campanha de Manuela, como qualquer campanha de grande porte que queira atingir um estado inteiro, precisou de um grande aparato, tanto financeiro e material quanto profissional. Nesse caso, profissionais contratados contaram, por sua vez, com uma candidata formada em jornalismo, em vantagem no conhecimento de técnicas de comunica^áo e da sua importáncia para alcanzar o receptor/eleitor. Conseguiram, candidata e assessores, de tal forma adequar sua campanha á linguagem midiática e seduzir o eleitorado que, mais impressionante que sua vota^áo — 271.939 votos — foi a adesáo conquistada em municípios do interior do Rio Grande do Sul. Isto porque, antes de conquistar a Cámara Federal, Manuela tinha sido eleita vereadora na capital gaúcha - já com uma expressiva vota^áo de 9.498 votos - sendo, portanto, seu reduto eleitoral a grande Porto Alegre. Neste contexto podemos verificar a eficácia na aplica^áo das técnicas de marketing eleitoral cuja estratégia apoiou-se nas técnicas da comunica^áo persuasiva na forma de propaganda.

Com um quadro e um discurso antigo, o PCdoB precisava renovar, como forma de atrair um novo segmento de eleitores e simpatizantes, decidindo pela indica^áo de uma candidata jovem - Manuela tinha 25 anos quando foi eleita - com padráo de beleza que na atualidade é ditado pela mídia e um discurso construído em cima de técnicas persuasivas que priorizou a leveza, deixando o radicalismo até entáo utilizado pelo

partido, fora de cena. Com essa modificagao no discurso foi possível também ter maior aproximagao do público - principalmente dos jovens que eram o alvo da campanha -pois integrantes da sociabilidade contemporánea consomem somente o discurso que esteja dentro da lógica midiática.

Conduzida pela descontragao, a campanha da candidata ganhou até um gimmick, a Manuelete. A boneca deu tao certo, que ganhou vida, e foi transformada em uma boneca gigante. Uma excelente pega de publicidade eleitoral.

Manuela tornou-se a musa pop. A personalizagao na sua campanha segue a tendencia mundial para ser "consumida" pelo eleitor, ou seja, ter o apoio, o voto. Como afirma DEMARTINI GOMES (2004, p.41): "o magnetismo pessoal dos políticos vem cumprindo um papel muito importante, e a massa acaba sendo atraída pela imagem, mais do que por qualquer outro fator".

A formagao de uma imagem positiva frente a opiniao pública é uma necessidade do candidato. A falta de uma boa imagem, tanto física quanto a de postura política e tática, acarretará em uma nao aceitagao pelo eleitorado trazendo prejuízos. Segundo Boorstin (in ALBUQUERQUE: 1995, p.153) a imagem é "o perfil cuidadosamente trabalhado da personalidade de um indivíduo, instituigao, empresa, produto ou servigo". Afirmagao comentada por Albuquerque:

Mais do que associar a imagem a atribuigao de determinadas qualidades a uma figura pública ou instituigao, como o fazem muitos autores, a definigao de Boorstin busca dar conta do processo de construgao da imagem pública, e do papel que ele desempenha na sociedade atual. (ALBUQUERQUE, 1995, p. 153)

Podemos verificar que, no quesito imagem os assessores de Manuela tiveram um resultado positivo. Além da beleza natural, a entao candidata contou a jovialidade buscada pelos eleitores naquele momento em que "velhas raposas" tingiam com escándalos a cena política brasileira. Além disso, a coesao do PCdoB em torno do nome de Manuela oportunizou um tempo bom no horário eleitoral gratuito.

Manuela nao era o PCdoB radical em seus discursos. Apesar de nao ter mudado o conteúdo ideológico do partido, a candidata alterou a forma da apresentagao. Sua fala era descontraída, mas séria; transmitia aos telespectadores conhecimento do que estava dizendo. Era uma fala pausada, mas enérgica, transmitindo entusiasmo e vontade de trabalhar.

Mais do que saber o que dizer e ter conhecimento do que o povo quer ouvir, Manuela soube expor suas idéias da maneira mais adequada, ou seja, da forma que o eleitor quer

escutar, nas regras midiáticas, sem abrir mao de utilizar a comunicagao persuasiva. Definido seu segmento eleitor, a jovem partiu para sua conquista.

Essa renovagao na linguagem política vista na campanha, Manuela também quer que se aplique na esquerda, como defendeu em entrevista publicada no site da UNE:

A esquerda, defende, precisa reciclar sua linguagem, aprender a falar de modo mais claro e nao reproduzir dentro dela a lógica dos partidos conservadores. [...] Acho que tem um conceito importante aí. O que tu diz ou escreve precisa ser entendido. E isso é uma confusao muito grande na esquerda. Muitas vezes se acha que simplificar, do ponto de vista do entendimento, significa rebaixar o discurso. Nao é. Tenho convicgao que nao é. E óbvio que as questoes teóricas mais profundas nao podem ser transformadas em coisas simplistas. Nao é querer explicar ! Dizendo: "leia O Capital ilustrado". Nao estou falando isso. Mas, do ponto de vista político, o entendimento das coisas, é preciso falar de um modo mais claro. E aí entra a questao da internet, que é um espago dessa linguagem mais direta e clara. Nao estou falando da linguagem abraviada, cheia de erros, mas sim da linguagem direta, do contato permanente.

Assim aconteceu com seus gestos que eram suaves, mas seguros, muito agradáveis aos olhos do eleitor-telespectador. Nas roupas, vemos algo geralmente mais informal, mas muito próximo do utilizado por repórteres de televisao quando cobrem matérias mais descontraídas.

Houve um acerto nos elementos de construgao da imagem da candidata, que se enquadraria na Constelagao da Mudanga, seguindo a teoria de FERRAZ. Os assessores conseguiram potencializar o seu carisma, o que é essencial hoje já que:

A política, em tempos de visibilidade e rapidez propiciadas pelas mídias, resgata o carisma como substitutivo de projetos políticos. Mais do que uma particularidade pessoal, o carisma, os dotes pessoais desviam as pessoas da política para o político [grifo nosso]. (WEBER, 2000, p. 14).

Analisando a política na Idade Mídia podemos assegurar que MAQUIAVEL, e sua obra O Príncipe, estao atualíssimos:

A um príncipe, portanto, nao é essencial possuir todas as qualidades [...] mas é bem necessário parecer possuí-las [...] é que os homens em geral julgam mais pelos olhos do que pelas maos [...] Todos véem

aquilo que tu aparentas, poucos sentem aquilo que tu és [...]. (1990, pp. 102 e 103).

Personagem presente na mídia após a eleigao, principalmente tratando de assuntos relacionados aos jovens - seus eleitores alvo - e mais precisamente aos estudantes, Manuela é referencia no e do PCdoB. Além das aparigoes em redes de TV e entrevistas em emissoras de rádio, e impressos, Manuela integra a geragao Internet, instrumento que incorporou em seu trabalho político.

A deputada utiliza os recursos desta mídia para estar em contato constante com os internautas, para ferramenta de trabalho nos mandatos e nas campanhas, com site de visual "transado", blog e participagao no Orkut. Hoje, em seu site, os internautas podem encontrar projetos, notícias, fotos, agenda e outros, ela possui Orkut - com mais de 3800 membros - e está investindo no Youtube.

A Internet tem sido um instrumento utilizado pelo marketing político e eleitoral para abordar os eleitores, abrindo novas oportunidades de relacionamento com os cidadaos. Registros dao conta que em 1996, o candidato a presidencia dos Estados Unidos, Bob Dole, foi o primeiro a divulgar seu wibesite como estratégia comunicacional, tendo como resposta o acesso de mais de dois milhoes de norte-americanos em seu site. Isso demonstra o potencial da Internet, ainda pouco explorado no Brasil.

Em entrevista ao site da UNE Manuela revela que responde pessoalmente seus e-mail's retrata como utiliza e os benefícios da Internet para o mandato:

Vou dar um exemplo. Eu tenho mais e-mail's do que enderegos. Em qualquer gabinete de político isso nao existe. Uma coisa que sempre me angustiou é a distáncia dos mandatos em relagao as pessoas. Sempre achei isso horrível. Como ter toda a semana um material impresso para se comunicar com elas? E impossível financeiramente.[...] Aí a Internet nos ajudou muito. Boletins eletronicos semanais, atualizagao diária do site. Nao sei quantas visitas diárias tivemos, mas isso comegou a criar uma cultura de proximidade. [...] E claro que é uma vantagem geracional, pois fomos educados já com a existencia dessa tecnologia. E óbvio que facilita. Acho que fazer isso é muito mais simples pra mim do que para um político de 50 ou 60 anos, que já tem seus valores fixos e uma linguagem definida. E claro que esse fator influencia. Mas acho que o que estamos fazendo está fazendo bem. Já vi que há outras pessoas fazendo isso. Quando questionei na Cámara como é que eles estavam bloqueando o Orkut no meu computador, que era usado para trabalho, foi um escándalo. Agora, na época de campanha, todo

mundo tinha sua comunidade no Orkut. [...] Acho que tudo que dinamiza a política faz bem para a política. (MANUELA D'AVILA)

Manuela nao gosta que os adjetivos "musa, bela, jovem" sejam utilizados para justificar sua eleigao. Em entrevista publicada no site de notícias do Terra, a deputada diz que isto é reflexo "do machismo que ainda cerca a política brasileira e tenta deslegitimar a condigao da mulher". A deputada cita como fatores de sua eleigao o trabalho realizado como vereadora em Porto Alegre, o posicionamento firme, sua identificagao com as políticas públicas do presidente Lula e a coesao do PCdoB em torno do seu nome.

Neste sentido, discordamos da candidata, pois entendemos que nao somente a beleza e a jovialidade de Manuela lhe garantiram a eleigao, mas deve-se observar que esta nao foi fruto tao somente de sua ideologia e posigao política.

Todos esses fatores tiveram uma incorporagao da linguagem midiática o que nos parece garantiu o sucesso da campanha. E deu tao certo que a última campanha do PCdoB veiculada na televisao já apresenta uma nova linguagem verbal e visual, remodelada a linguagem midiática, suavizada, atraente.

O radicalismo foi aposentado, a maneira dura de se dirigir ao espectador-eleitor também, inclusive por políticos da velha guarda, como Aldo Rebelo e Jussara Cony, que agora aparecem ao lado de Manuela em uma versao light, sem a agressividade dos discursos anteriores do Partido.

Nada mais atual que a concepgao de Maquiavel de que os "meios serao sempre julgados honrosos", pois serao justificados pelos fins. Sendo assim, em uma Idade Mídia, os meios seriam as readequagoes da política a linguagem midiática, utilizada para seduzir o espectador-eleitor e conquistar os fins, o voto. Por mais que isso parega maquiavélico aos estudiosos que se mantém ligados a política clássica.

O autor escreveu os manuscritos em 1513 e os enviou a Lorenzo de Medici, mas parece uma receita de sucesso para quem queira integrar-se ou manter-se no cenário político contemporáneo.

Considerares fináis

Este estudo procurou tematizar as mudangas ocorridas na política contemporánea. O novo mundo propiciado pela comunicagao, a globalizagao, o avango do capitalismo, as mutagoes na sociedade, na cultura, geraram uma crise na política.

Deslocada, de seu formato e conceito tradicionais, a política busca novos ingredientes para sobreviver a Idade Mídia. Contudo nao há neste registro a intengao de afirmar que

a política nao sobreviverá a sua midiatizaçâo, mas pareceria ingenuo nao constatar que sao necessárias (re) adequaçoes, novas abordagens, novas definiçoes para conquistar visibilidade em uma sociedade estruturada e ambientada pela mídia.

Superar a crise depende da capacidade da política em captar os novos elementos essenciais que a deixem ajustada com a contemporaneidade, encontrando novos lugares para acontecer, principalmente nos espaços midiáticos.

A historia de mudanças no PCdoB é um exemplo claro de como os partidos políticos e os atores políticos devem se comportar na contemporaneidade. Renovar nao é sinónimo de findar. Existe sim a possibilidade de formular novos caminhos que nao tirarao da política o papel de poder determinante da vida, do cotidiano. A campanha e o mandato da deputada federal Manuela D'Ávila dao conta dessa nova trajetória a ser perseguida. Talvez ainda nao tenha alcançado a formataçao ideal, mas aponta um caminho a ser seguido.

E isto é tao concreto, que o PCdoB passa atualmente de partido coadjuvante para principal, no momento em que lança como candidata a própria Manuela, na cabeça da chapa majoritária para concorrer nas eleiçoes deste ano à Prefeitura de Porto Alegre. O que nao estava ocorrendo nos últimos anos no partido, que procurava coligaçoes para infiltrar seus candidatos. Verificamos que os políticos transformaram-se em atores e os eleitores, em espectadores. Os meios eletrónicos permitem valorizar o que há de melhor no candidato e camuflar imperfeiçoes. Luzes, textos decorados, gestos, exploraçao do carisma, resultam em um discurso com ar teatral.

Tudo produzido para provocar emoçao, levar o espectador-eleitor às lágrimas ou ao riso, à concordância ou à repulsa, seduzi-lo, persuadi-lo. Tudo planejado pelo marketing eleitoral, inclusive logotipos, cores, slogans, cor, forma, etc. - para obter uma resposta do eleitor. No entanto, ainda há a necessidade de qualificar esse novo formato adotado pela política, para que os eleitores nao vejam mais o horário eleitoral gratuito e a política de forma geral como um tormento.

A mídia tornou-se uma alternativa importante para os representantes do povo ou candidatos apresentarem suas propostas, realizarem um debate sobre assuntos de interesse da sociedade, além de ser um importante palanque eleitoral. Mas pouco tem sido usado para esse fim. Seria importante a realizaçao de uma discussao sobre até que ponto a forma como as mídias sao utilizadas contribui para facilitar a escolha dos eleitores. O importante é que busque utilizar a publicidade e o marketing para um desenvolvimento político mais consciente, para formar e informar o cidadao. Ocupar esses espaços com propostas menos eleitoreiras e mais realistas parece uma fórmula a ser construída.

Recibido: 17 de enero 2009

Aceptado: 24 abril 2009

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http://www.une.org.br/home3/opiniao/entrevista

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