Научная статья на тему 'PARTIDOS COMUNISTAS Y POLíTICAS CULTURALES: UN ESTUDIO COMPARADO DE LA PRENSA COMUNISTA DE BRASIL Y CHILE, 1935-1956'

PARTIDOS COMUNISTAS Y POLíTICAS CULTURALES: UN ESTUDIO COMPARADO DE LA PRENSA COMUNISTA DE BRASIL Y CHILE, 1935-1956 Текст научной статьи по специальности «Социологические науки»

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IMPRENSA COMUNISTA / POLíTICAS CULTURAIS / INTELECTUALIDADE COMUNISTA / GUERRA FRIA

Аннотация научной статьи по социологическим наукам, автор научной работы — Dalmás Carine

Apresentaremos algumas constatações preliminares a respeito das publicações da imprensas do Partido Comunista do Brasil (PCB) e do Partido Comunista do Chile (PCCh) difundidas entre 1935 e 1956. Parte dos periódicos desses partidos são suporte das fontes principais dessa pesquisa de doutorado que, a partir da análise de artigos e comentários sobre as produções artísticas da época publicados nas principais revistas e jornais comunistas, procura analisar, numa perspectiva comparada, as propostas e concepções político-culturais do PCB e do PCCh direcionadas ao campo artístico (teatro, música, artes plásticas, cinema)

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Текст научной работы на тему «PARTIDOS COMUNISTAS Y POLíTICAS CULTURALES: UN ESTUDIO COMPARADO DE LA PRENSA COMUNISTA DE BRASIL Y CHILE, 1935-1956»

Partidos Comunistas e Políticas Culturáis: um estudo comparado da imprensa comunista no Brasil e no Chile, 1935-1956

Partidos Comunistas y Políticas Culturales: un estudio comparado de la prensa comunista de Brasil y Chile, 1935-1956

Communist Parties and Cultural Policies: a comparative study of the communist press in Brazil and Chile, 1935-1936

Carine Dalmás*

Resumo

Apresentaremos algumas constatares preliminares a respeito das publicares da imprensas do Partido Comunista do Brasil (PCB)1 e do Partido Comunista do Chile (PCCh) difundidas entre 1935 e 1956. Parte dos periódicos desses partidos sao suporte das fontes principais dessa pesquisa de doutorado que, a partir da análise de artigos e comentarios sobre as produces artísticas da época publicados nas principais revistas e jornais comunistas, procura analisar, numa perspectiva comparada, as propostas e concepfSes político-culturais do PCB e do PCCh direcionadas ao campo artístico (teatro, música, artes plásticas, cinema).

Palavras-chave: imprensa comunista; políticas culturais; intelectualidade comunista, guerra fria

Abstract

We present some initial aspects of the publications of the Communist Party of Brazil (PCB) and Chile (CCP) between 1935 and 1956. From the analysis of the articles and comments on the artistic productions of the era published in magazines and communists newspaper and, in a comparative perspective, analyzing the proposals and political-cultural conceptions of both parties about the artistic field (theater, music, visual arts, cinema).

Keywords: Communist press; cultural policies; communist intellectuals; Cold War

Brasileña, Mestre em Historia Social pela Universidade de Sao Paulo. Doutoranda no Programa de Pós-Gradua^ao em Historia Social da USP [email protected]

1 Cabe esclarecer que o PCB foi fundado em 25 de marfo de 1922 e seguiu a tradifao marxista-leninista. Seu nome original era Partido Comunista do Brasil. Divergencias internas, acentuadas a partir do XX Congresso do Partido Comunista da Uniao Soviética, realizado em 1956, provocaram uma crise no PCB. No V Congresso do Partido Comunista do Brasil, em 1960, várias mudanzas ocorreram, dentre elas a alterado do nome para Partido Comunista Brasileiro. A intensificado das divergencias levou á cisao entre os comunistas, resultando, em 1962, na criafao do PC do B, que retomou o antigo nome Partido Comunista do Brasil e passou a seguir orientado maoísta. Abordaremos, portanto, um período da historia do PCB em que ainda se chamava Partido Comunista do Brasil.

A pesquisa

A opçâo pela comparaçâo dos projetos e concepçôes político-culturais do PCB e do PCCh para o campo das artes pautou-se em uma constataçâo a respeito dos dois partidos: tanto o PCB quanto o PCCh viveram nas décadas de 1960 e 1970, o ápice de suas realizaçôes político-culturais. A pesquisa de mestrado que realizei sobre a propaganda visual do governo e dos principais partidos políticos da Unidade Popular (UP) no Chile - o PCCh e o Partido Socialista do Chile (PSCh) -, entre 1970 e 1973,2 demonstrou como o PCCh se sobressaiu no desenvolvimento da mobilizaçâo artística voltada à propaganda política do projeto de transiçâo ao socialismo iniciado nesse período. Sua preocupaçâo em estabelecer as bases estéticas e ideológicas para um trabalho simbólico de denúncia das contradiçôes sociais e de uma pedagogia política, marcada pela cultura política dita "nacional-popular", revelou um projeto estético-ideológico - no campo musical com a Nova Cançâo Chilena (NCCh) ou no campo visual com as Brigadas Ramona Parra - que se aproximava dos projetos desenvolvidos no Brasil, com participaçâo do PCB, nos Centros Populares de Cultura (CPCs) da Uniâo Nacional dos Estudantes (UNE) e no campo musical através da Moderna Música Popular Brasileira (MMPB)3. A relevância com que os autores destacam o protagonismo dos comunistas brasileiros e chilenos em projetos artístico-culturais como esses nas décadas de 1960 e 1970, permitiram que nos colocássemos duas questôes fundamentais: Quais foram as formulaçôes seguidas e as realizaçôes político-culturais efetivadas no campo das artes por ambos ao longo de suas histórias para que alcançassem um espaço tâo relevante, nesse campo, em seus respectivos cenários nacionais? E mais, como foi possível alcançarem éxitos tâo similares, sendo que nas décadas de consolidaçâo de sua força político-institucional nos cenários nacionais e internacional, entres as décadas de 1930 e 1950, realizaram em seus respectivos países percursos tâo distintos e, ainda, estavam vinculados ao Movimento Comunista Internacional (MCI), liderado por Stálin que implementava o realismo-socialista4 como parâmetro político-cultural para as artes?

2 DALMAS, Carine. Brigadas muralistas e cartazes da experiencia chilena. (1970-1973). Dissertafao de Mestrado (Historia Social), FFLCH-USP, 2006. 199 f.

3 O historiador Marcos Napolitano, em uma análise comparada da MMPB e da Nueva Canción Chilena (NCCh), mostra como essas manifestares musicais, apesar de percorrerem trajetórias diferentes, possuíam relevantes pontos de contato em seus principios estético-ideológicos. Ver: NAPOLITANO, Marcos. A canfao engajada no Chile e no Brasil: uma perspectiva comparada. Caderno de Filosofía e Ciencias Humanas. Sao Paulo, v.7, n. 13, p. 19-23, abr. 2000.

4 O realismo-socialista nasceu como crítica de arte e, gradualmente, tornou-se uma concepto burocrática e administrativa da produfao cultural, com nofoes estéticas que variavam em funfao do objetivo político. No período jdanovista passou a representar regras rígidas á arte e uma doutrina científica que orientava escritores e artistas soviéticos a atuarem como "engenheiros da alma humana". Além disso, segundo Henri Arvon, o realismo-socialista, contrariava as formulares de Lenin para o campo artístico, pois a política cultural stalinista nao pressupunha uma relafao dialética entre arte e política na maneira como atrelou a cultura á política oficial. ARVON, Henri. La estética marxista. Trad: Marta Rojzman. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1970, p. 83-4. Outra referencia de fundamental importancia para nosso posterior aprofundamento das reflexoes em torno do realismo-socialista é a seguinte: ROBIN, Regine. Le réalisme socialiste. Une esthétique impossible. Paris: Payot, 1986.

Optamos pelo estudo histórico comparado porque nos afinamos com a perspectiva de Marc Bloch ao propor uma "Historia Comparada Problema"5, ou seja, "uma historia que se constrói em torno de problematiza?óes específicas e nao de curiosidades ou meras factualidades"6. O estudos das políticas culturais de partidos comunistas estreitamente vinculados ao MCI no período stalinista, como foi o caso do PCB e do PCCh, se estudadas no ámbito de uma historia nacional, nao permitiriam a compreensao das apropria?óes que partidos latino-americanos de realidades socio-históricas tao diferentes das européias e entre si, fizeram de um projeto internacional como o realismo-socialista. Entre a proposta do realismo-socialista e sua implementa?ao no Brasil e no Chile houve a media?ao do Bureau Sul-Americano, sediado no Partido Comunista da Argentina e dos artistas brasileiros e chilenos que a ele reagiram posicionando-se através da imprensa partidária ou através de suas proprias obras.

Procuraremos, assim, realizar uma historia comparada que nos permita, como sugere a historiadora Maria Ligia Prado, superar as visóes "que transportavam para o cenário latino-americano modelos de interpreta?ao histórica já estabelecidos e proprios da historia européia", como, por exemplo, "os debates sobre a natureza das revolu?óes burguesas e socialistas".7 Ao contrário, pretendemos olhar o Brasil e o Chile como locais produtores de leituras singulares de um projeto político-cultural internacional que buscou direcionar e unificar os partidos comunistas, submetendo-os á lideran?a do Partido Comunista da Uniao Soviética (PCUS) e, além disso, como partidos que, apesar das suas singularidades nacionais, expressaram na valoriza?ao do campo artístico, estratégias similares de difusao de um projeto político-ideologico internacional que entendiam como uma alternativa viável para solucionar os problemas socio-políticos da América Latina.

Apontamentos sobre os periódicos do PCB e do PCCh analisados:

A imprensa escrita foi, tradicionalmente, um veículo privilegiado para a constru?ao, divulga?ao e realiza?ao de propostas e projetos político-culturais dos Partidos Comunistas e se fundamentou nos princípios do marxismo-leninismo que, no período em questao, adaptava-se á orienta?ao stalinista do Movimento Comunista Internacional (MCI). Como nosso objetivo é compreender as propostas político-culturais veiculadas por tais partidos, analisar o caráter da imprensa comunista brasileira e chilena se torna um pressuposto.

Entendemos a categoria "política cultural" com base na defini?ao apresentada no Dicionário Crítico de Política Cultural elaborado por Teixeira Coelho8, como uma categoria bastante variável e constituída teoricamente a partir de várias áreas do conhecimento e que estaria voltada para a organiza?ao das estruturas culturais, constituindo

5 Os textos de Marc Bloch considerados fundamentáis para a nossa perspectiva de análise sâo: Pour une histoire compare des societies europeénes. In: Mélanges historiques. Paris: S.E.V.P.E.N., 1963 ; e Os Reis Taumaturgos - o caráter sobrenatural do Poder Régio. França e Inglaterra. Sâo Paulo: Companhia das Letras, 1993.

6 BARROS, José. Historia comparada - um novo modo de ver e fazer a historia. Revista de História Comparada. Junho. v.1. n. 1, 2007. p. 6.

7 PRADO, Maria Ligia Coelho. Repensando a história comparada da América Latina. Revista de História. 2 semestre. n. 153. Sâo Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2005. p.23-24.

8 COELHO, T. Dicionário Crítico de Política Cultural. Sâo Paulo: Iluminuras, 1999.

um programa de interven?óes realizado pelo Estado, institui?óes e organiza?óes civis com o objetivo de "satisfazer as necessidades culturais da popula?ao e promover o desenvolvimento de suas representa?óes simbólicas". As políticas culturais pressupóem, nesse sentido, um conjunto de interven?óes de diversos agentes no campo cultural, com o objetivo de obter apoio para a manuten?ao de certa ordem política e social ou para realizar uma transforma?ao social. Variando de acordo com os contextos em que se realizam, as políticas culturais, freqüentemente, apresentam-se altamente ideologizadas.9

Em perspectiva mais específica, o sociólogo chileno José Joaquim Brunner ressalta que as políticas culturais representam um produto especializado que tem seu espa?o próprio, específico e uma forma macro e pública de exercício e de transmissao.10 Pensando o espectro de desenvolvimento das políticas culturais, Brunner11 delimitou categorias dentre as quais destacaremos aqui a que o autor denomina de circuitos culturais.

Os circuitos culturais constituem o principal lugar e objeto para incidencia de políticas culturais, sao locais onde ocorrem a produ?ao, a transmissao e a recep?ao de bens simbólicos e correspondem a espa?os e equipamentos culturais. Entendemos que é possível ampliar a utiliza?ao dessa idéia e tratar os jornais e revistas comunistas como circuitos e produtos culturais simultaneamente, ou seja, sao produtos que acabam por constituir os circuitos culturais, porque os seus produtores, colaboradores e leitores formam, em muitos casos, uma determinada sociabilidade. Os periódicos do PCB e do PCCh apresentam abertamente a inten?ao de se tornarem um espa?o onde o público se identificasse com o "produto" consumido e quisesse contribuir para sua legitima?ao no conjunto mais amplo das sociedades em questao.

No Brasil e no Chile a imprensa comunista que se desenvolveu, respectivamente, ligada ao PCB e ao PCCh sendo, ao mesmo tempo, expressao e veículo de debates e propostas político-culturais desses partidos, constituiu circuitos culturais diferentes entre si e que associamos, neste primeiro momento, ás condi?óes históricas e político-institucionais de desenvolvimento de seus partidos de origem. E, nesse sentido, cabe ressaltar que o PCB teve sua história marcada pela condi?ao de ilegalidade e pouca participa?ao nas disputas político-institucionais no Brasil, enquanto que o PCCh, mesmo quando ilegal, conseguiu, através de suas políticas de alian?as, atuar no jogo político nacional.

Analisemos entao, em linhas gerais, como alguns dos periódicos do PCB e do PCCh estruturaram-se enquanto circuitos culturais.

No PCB, os periódicos que tratavam das produ?óes artísticas dividiram-se entre as principais capitais brasileiras, ligavam-se a grupos de artistas e intelectuais comunistas de cada regiao e, geralmente, tiveram curtos períodos de existencia.12 Nestas condi?óes, ao

9 Ibid., p. 293-294.

10 BRUNNER, J. J. Cultura y Modernidad. Ciudad de México: Grijalbo, 1992. p. 250-252.

11 Ibid., p. 252-259.

12Os periódicos do PCB utilizados como utilizados como fontes primárias sao: Boletim de Ariel (1931 a 1938); Espírito Novo (1934); Revista Proletária (Rio de Janeiro - 1935, 1938 a 1939); Problemas (Sao Paulo - 1937 a 1939); Revista Seiva (Salvador - 1938 a 1943 e 1950 a 1952); Continental (Rio de Janeiro - 1944); Leitura (Rio de Janeiro - 1944 a 1945); Tribuna Popular (Rio de Janeiro - 1945-1947); Voz Operária (1945-

longo de sua historia, o PCB criou ou apoiou uma série de publica?óes periodicas que, segundo nos mostra o sociologo Antonio Rubim, foram fundamentais para a difusao do marxismo no Brasil, centralizando os debates até 1956, e que, além disso, expressaram inten?óes e projetos político-culturais elaborados por militantes do partido, mas nem

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sempre endossados pelo Comité Central. Ainda, segundo esse autor, o PCB, ao oferecer uma ampla rede de periodicos, teria estimulado a aproxima?ao de artistas e intelectuais ao partido, criando um espa?o alternativo e profícuo para o debate e a divulga?ao de ideias, especialmente até o final dos anos 1960. Porém, este espa?o rico para a troca de idéias variou, no período de 1935 a 1956, entre: uma eufórica abertura do Partido ás iniciativas e propostas dos artistas e intelectuais, especialmente no período da Alian?a Nacional Libertadora (ANL)14 e nos breves anos de legalidade (1945-1947); e um posterior fechamento e sectarismo por parte do Comite Central (CC) motivados pela retomada de sua persegui?ao, ás orienta?óes jdanovistas do MCI e ao Manifesto de Agosto de 1950.

Apresentaremos, na sequencia e de forma breve, duas revistas do PCB que expressam essas conjunturas, sao elas: as revistas culturais Seiva (BA) e Fundamentos (SP).

A revista seiva é considerada a primeira revista do PCB. Criada por um grupo de militantes comunistas do estado da Bahia, foi publicada entre 1938 e 1943 e depois retomada entre 1950 e 1952, dois períodos em que o partido atuava na ilegalidade e razao pela qual os números publicados nao seguiram a regularidade mensal que almejava. A proposta que a direcionou variou de acordo com a linha política do PCB em cada fase. Na sua primeira fase, Seiva assumiu como princípio a luta antifascista que, segundo Joao Falcao, militante comunista e principal articulador da cria?ao da revista, passou pela aprova?ao do CC do PCB, mas ainda assim continuou sendo uma iniciativa dos militantes comunistas da Bahia.15

A revista Seiva publicou ensaios e artigos voltados para questóes políticas, económicas e, sobretudo, artístico-culturais (críticas literárias, contos e poesias). Seus colaboradores foram, predominantemente, escritores, artistas e intelectuais brasileiros de diferentes regióes do país, mas com preponderáncia da regiao nordeste. Dentre seus colaboradores estrangeiros destacamos os chilenos Luis Enrique Deláno, este pouco conhecido e comentado no Brasil, e Pablo Neruda.

1950); Literatura (Rio de Janeiro - 1946 a 1948); Problemas (Rio de Janeiro - 1947 a 1956); O Popular (Recife - 1948); Fundamentos (Sao Paulo - 1948 a 1955); Para Todos (Río de Janeiro - 1949 a 1952 e 1956 a 1958); Orientagäo (Recife - 1951); A Classe Operaría (Rio de Janeiro - 1925 a 1946); Horizonte (Porto Alegre 1951 a 1955); Horizonte (Belo Horizonte 1952-1953); Imprensa Popular (Rio de Janeiro - 1954 a 1956); Horizontes do Mundo (Sao Paulo - 1955 a 1956); e a Revista Brasiliense (Sao Paulo - 1955-1964). No conjunto esse material encontra-se disponível nos seguintes acervos: CEDEM - UNESP; AEL - UNICAMP; Biblioteca Mario de Andrade - Sao Paulo/SP; Biblioteca Nacional - RJ; Instituto Cultural Carlos Scliar - RJ.

13 RUBIM, Antonio Albino Canelas. Marxismo, cultura e intelectuais no Brasil. In: MORAES, Joao Quartim de (org.). Historia do Marxismo no Brasil - Volume III: teorias. interpretares. Campinas: UNICAMP, 2007. (Colefäo Repertorios). p. 374

14 A ALN foi criada em marfo de 1935 e reuniu comunistas, liberais, tenentistas e correntes operárias diversas, para fazer oposifäo ao nazi-fascismo na política externa e na política interna. CARONE, Edgar. (org). O PCB. (1922-1943). Sao Paulo: Difel, 1982. v. 1.

15 FALCÄO, Joao. A historia da revista seiva. Primeira revista do Partido Comunista do Brasil - PCB. Salvador/BA: Ponto & Virgula, 2008.p.7-10

A segunda fase da revista Seiva expressou a linha assumida pelo PCB, sobretudo, depois do manifesto de Luis Carlos Prestes, divulgado em agosto de 195016, quando o partido passa a assumir posturas sectárias e consideradas ultra-esquerdistas. Nesta perspectiva o debate político-cultural de Seiva expressou o apoiou o Movimento Mundial pela Paz17, a exalta?ao da lideran?a de Luís Carlos Prestes18; e, no campo artístico, manifestou-se simpática ao realismo-socialista.

A revista Fundamentos, que se auto-definiu como uma revista de cultura moderna foi criada em julho de 1948, por iniciativa de comunistas paulistas19. Alinhada abertamente á crítica da Uniao Soviética ao imperialismo dos Estados Unidos, neste contexto de Guerra Fria, a revista Fundamentos transfere para o debate cultural, a linha política de defesa do nacionalismo contra a política externa estadunidense e seus aliados nacionais - oligarquias que sustentavam governos como o do presidente Dutra no Brasil - e, ao mesmo tempo, reafirma o internacionalismo proletário, na linha da Uniao das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A partir disso, reivindicou a coopera?ao dos intelectuais "democratas, honestos e conseqüentes" para a compreensao do presente momento histórico no mundo e do Brasil.

Publicada até 1955, a revista Fundamentos divulgou ensaios sobre temas variados (política, economia, biografias, artes, cultura, informes de congressos, contos, poesias, entre outros) e, entre aqueles que trataram da temática artístico-cultural, houve o predomínio de textos escritos por artistas e intelectuais comunistas brasileiros e tradu?óes de artigos de autores soviéticos e europeus20. Os campos artísticos abordados foram os mais diversos

16 Em rela^ao ao contexto mais específico de atuafao do PCB, a revista aderiu a Frente Democrática de Libertado Nacional (FDLN), constituída a partir do manifesto de 1° de agosto de 1950 de Luís Carlos Prestes, quando o partido assumiu uma linha política ultra-esquerdista. O programa da FDLN significou o rompimento das alianzas políticas com organizares nao-comunistas e a adofao de uma política independente em relafao ao processo eleitoral e no movimento operário. (CHILCOTE, Ronald. H. Partido Comunista Brasileiro. Conflito e integrado - 1922-1972. Trad: Celso Mauro Parcionik. Rio de Janeiro: Edifóes Graal, 1982 p. 107)

17Na segunda metade da década de 1940, opondo-se ao macarthismo e procurando deslegitimar o pretenso caráter pacifista e universal da Carta das Nafóes Unidas de 1945 e a criafao da ONU em 1948, considerados órgaos subservientes aos Estados Unidos, a URSS apoiou e encampou as resolufóes do Congresso dos Intelectuais pela Paz, realizado em Wroclaw, na Polonia, também em 1948. A autora Cassandra Gonfalves ressalta como esse movimento agregou muitos intelectuais junto ao MCI e resultou na formafao do Conselho Mundial de Paz em 1949, do qual participaram Jorge Amado do PCB e Pablo Neruda do PCCh. A autora problematiza a relafao da URSS com o movimento pela paz afirmando que o "Movimento Mundial pela Paz tinha ligafao estrita com a política externa da Uniao Soviética, e foi amplamente incentivado e divulgado pelos Partidos Comunistas de vários países. Nao se pode afirmar se o movimento foi iniciado por intelectuais de forma independente, e posteriormente acolhido pelo governo soviético, ou se foi uma orientado de Moscou." GONQALVES, Cassandra de Castro Assis. Clube de Gravura de Porto Alegre. Arte e política na modernidade. (Disserta^ao de mestrado). PROLAM/USP, 2005. p.17-18.

18Em 12 de marfo de 1931, Luis Carlos Prestes se declarou comunista através de uma carta aberta e em 20 de marfo partiu para a URSS, onde passou quatro anos. Preso depois da Insurreifao de 1935 iniciou sua atuafao como Secretário Geral do Partido ainda na prisao.

19 Dirigida por Ruy Barbosa Cardoso, por Monteiro Lobato e, depois, por Afonso Schmidt. Villanova Artigas, Artur Neves, Mário Gruber e Armenio Guedes (agitafao e propaganda do Comité Regional

20 Astrojildo prereira (escritor, jornalista e diretor da Revista Literatura);); Alvaro Bittencourt (crítico de música); Clóvis Graciano (Pintor). Artur Neves (publicista e editor - organizador das obras completas de Monteiro Lobato); Caio Prado Júnior (historiador, sociólogo e parlamentar); Rossine Camargo Guarnieri

(literatura, música, artes plásticas, cinema) e seus autores possuem trajetorias significativas nos debates e a?óes político-culturais nacionais e internacionais. A complexidade de muitas discussóes, bem como, o caráter panfletário e militante de outras, nao diminuem sua importáncia político-cultural tendo em vista, conforme destacou Rubim, a "amplitude de

áreas culturais abrangidas"; "o militantismo cultural" e a "significa?ao dos intelectuais

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envolvidos".

Os periodicos do PCB publicados entre 1947 e 1953, como foi o caso de Fundamentos, inserem-se num quadro em que, conforme atestou o comunicologo brasileiro Denis de Moraes (1994), a imprensa partidária colocou-se como "polo gerador de estratégias político-ideologicas que engendraram formas específicas de submissao da esfera artístico-literária ao chamado jdanovismo."22

O exposto sobre a imprensa do PCB, no geral, e as revistas, em particular, nos permitem destacar tres aspectos para pensarmos como o PCB desenvolveu os debates relacionados ao campo artístico-cultural: o primeiro deles consiste no indicativo de que essas revistas elegeram como público privilegiado os intelectuais, artistas e militantes com conhecimento prévio em rela?ao aos assuntos abordados, ou seja, nao estiveram voltadas para um público muito amplo nem heterogeneo.

Em segundo lugar, observamos que cada revista expressou vozes de grupos regionais, o que indica uma pluralidade de políticas culturais que tem como porta-vozes os militantes do PCB e que nao correspondem a uma iniciativa dirigida pelo comite central, mas apenas que tentam fundamentarem-se em suas diretrizes mais amplas as quais, no geral, expressam adapta?óes das linhas assumidas pelo MCI para o campo cultural.

Por último, os textos veiculados preocuparam-se em difundir as discussóes sobre o papel político da arte conforme realizava-se na URSS e na Europa e como poderiam ser transposta para a realidade brasileira, com poucas referencias ás produ?óes e posicionamentos de intelectuais e artistas latino-americanos.

Os periodicos do PCCh foram menos diversificados e sua difusao partiu da capital, Santiago de Chile, mas, no entanto revelam maior durabilidade e frequéncia das suas publica?óes e um alcance nacional.23

(Poeta); Galeao Coutinho (jornalista e escritor); Afonso Schimidt (romancista e editor-chefe de fundamento); Alceu Maynard Araújo (folclorista); Vitor Brecheret (escultor); Roberto Maia (fotógrafo). A Fedeyev (escritor e secretário geral da Uniao de Escritores Soviéticos); Pedro S. Almeida (literato e teatrologo paulista); Murillo Mendes (Poeta e Crítico de arte); Ibiapaba O. Martins (Jornalista e crítico de arte); Clovis Graciano (Pintor e ilustrador)

21 RUBIM, op. cit., p.57.

22MORAES, Denis. O imaginario vigiado. A imprensa comunista e o realismo socialista no Brasil (19471953). Rio de Janeiro: José Olympo, 1994.p.16

23Os periodicos do PCCh ou com participado regular de seus militantes utilizados como fontes primárias da pesquisa sao: Justicia; Frente Único (Santiago de Chile - 1932 a 1936); Principios (Santiago de Chile - 1935 a 1973); Frente Popular (1936 a 1940); Aurora de Chile (Santiago de Chile - 1938 a 1943); El Siglo (1940 a 1948 e 1952 a 1973); Democracia (1949 e 1952); La Gaceta de Chile (1955 a 1956); Vistazo (Santiago de Chile - 1952 a 1965); Multitud (Santiago de Chile - 1939-1944). Esse material encontra-se disponível nos

Nascido da reorienta?ao do Partido Operário Socialista (POS), que existia desde junho de 1912, em dire?ao ao bolchevismo e sua concep?ao marxista-leninista de partido24,

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o PCCh teve como principal fundador o tipógrafo Luis Emilio Recabarren. A esta figura tem sido atribuída a marcante preocupa?ao do partido com a manuten?ao de periódicos e outras a?óes voltada para a forma?ao ideológica e cultural do operariado chileno que teriam como objetivo principal a consolida?ao de uma cultura obrera ilustrada, conforme a conceitua?ao do intelectual chileno Eduardo Devés.26 Tal ideia é consideradas por alguns autores como fundadora de uma cultura política que acompanharia a imprensa do PCCh ao longo da sua história27.

Sem descartá-la, entendemos que a essa concep?ao fundadora precisaremos associar outros fatores que marcaram o período histórico analisado, mas que aqui apenas enunciaremos, como: a considerável independencia dos gráficos chilenos em rela?ao ás empresas jornalísticas dominantes até os anos 195 028; o amplo espectro de a?óes e debates artístico-culturais abertos pelos institutos de artes da Universidade do Chile (UCHILE) e seus institutos de extensao cultural, criados ao longo dos anos 194029; e, principalmente, a representatividade eleitoral alcan?ada pelo PCCh e sua ampla trajetória legal se comparado a outros partidos comunistas latino-americanos e, especialmente, ao PCB. É nesse espectro que pretendemos pensar a política cultural desenvolvida por esse partido entre 1935-1956.

O levantamento e a revisao inicial de seus periódicos revelam o predomínio de diários e semanários de caráter massivo, ou seja, voltados para um público amplo e heterogeneo e que, mesmo apresentando temas predominantemente políticos, se preocuparam em divulgar regularmente notícias de esporte, utilidades domésticas, temas relacionados á juventude e á infancia, programa?ao e críticas artístico-culturais. Porém, também identificamos algumas revistas voltadas para um público especializado ou interessado nos debates artístico-culturais da época, mas que nao superaram em tempo de

acervos da Biblioteca Nacional de Chile, na Biblioteca del Congreso Nacional, bem como nas Fundafóes Pablo Neruda e Pablo de Rokha, dentre outros acervos secundários.

24 RAMÍREZ NECOCHEA, Hernán. Origen y formación del Partido Comunista de Chile. Ensayo de historia política y social de Chile. Santiago de Chile: Editorial Progresso, 1984.

25 Foram realizados tres congressos do POS e no último deles, em dezembro de 1920, seus líderes, incluindo Recabarren, decidiram-se pela integrado ao MCI. A mudanza do nome de POS para PCCh, ligou-se a tal decisao e se concretizou em janeiro de 1922, no seu congresso nacional.

26 DEVÉS V., Eduardo. La cultura obrera ilustrada chilena y algunas ideas en torno al sentido de nuestro quehacer historiográfico. Santiago de Chile, Mapocho. Revista de Humanidades y Ciencias Sociales. n° 30, Segundo semestre de 1991, Dirección de Bibliotecas, Archivos y Museos. p. 127-135. Essa concepto da cultura obrera ilustrada aparece como um marco da cultura política dos comunistas chilenos e a identificamos como um consenso em trabalhos recentes de outros pesquisadores que constam em nossa bibliografia.

27 Questóes analisadas nos seguintes trabalhos: LOYOLA, Manuel. La felicidad y la política en Luis Emilio Recabarren. Ensayo de interpretación de su pensamiento. Santiago de Chile: Ariadna Ediciones, 2007; e MASSARDO, Jaime. La formación del imaginario político de Luis Emilio Recabarren. Contribución al estudio crítico de la cultura política de las clases subalternas de la sociedad chilena. Santiago: LOM, 2008.

28 CASTILLO ESPINOZA, Eduardo. Puño y Letra. Movimiento social y comunicación gráfica en Chile. Santiago de Chile: Ocho Libros Editores, 2006.

29 CATALÁN, Carlos et alli. Transformaciones del sistema cultural chileno entre 1920-1973. CENECA-Documento de trabajo, Santiago de Chile, n.65, p. 1-53, 1987.

publica?ao e referencia nos veículos de imprensa oficiais do Partido a releváncia desses jornais diários.

Aqui daremos destaque a dois periodicos, um do PCCh e outro dirigido por Pablo Neruda e que nos ajudou a pensar sobre o caráter dessa imprensa e a importáncia político-cultural por ela exercida, sao eles: o jornal diário El Siglo e a revista Gaceta de Chile.

O jornal diário El Siglo, orgao oficial do PCCh a partir de 31 de agosto de 1940, foi publicado regularmente até 14 de julho de 1948, quando foi implementada a "Lei de Defesa da Democracia" que retirou os direitos legais do PCCh até 1958. Porém, o El Siglo voltou a ser publicado em outubro de 1952, depois da elei?ao de Ibañez e do abrandamento da persegui?ao aos comunistas. Mesmo com a predomináncia de publica?óes relacionadas ás questóes políticas de ámbito nacional, latino-americano, estadunidense e europeu, o jornal apresentou regularmente artigos sobre temas que demonstram o interesse em atingir um público mais amplo, como, por exemplo, as sessóes diárias sobre esporte e semanais sobre a juventude, as mulheres e a infáncia.

No campo artístico-cultural, apresentou diariamente as programa?óes nacionais nas diversas áreas artísticas, porém com grande énfase no cinema, no teatro, na programa?ao radial e, a partir de meados dos anos 1940, também se voltou para expressóes da cultura popular ou folclorica chilena. Ainda no ámbito artístico-cultural, muitos textos de críticas e análises mais elaboradas sobre as diferentes áreas de produ?ao artística apareceram semanalmente e, gradualmente, foram sendo concentrados na edi?ao especial publicada aos domingos. Artigos de grandes personalidades nacionais, latino-americanas, estadunidense, européias e soviéticas, relacionadas aos campos literário, teatral, musical e cinematográfico também tiveram espa?o regularmente nesse jornal. O El Siglo ainda acompanhou todo o desenvolvimento dos setores de Extensao cultural da UCHILE, as reivindica?óes dos sindicatos de músicos e artistas plásticos, entre outros, e publicou algumas resolu?óes do proprio partido relacionadas ao campo cultural e que reiteravam a linha de sua programa?ao.

Um aspecto bastante relevante para a nossa pesquisa é a ampla cobertura que o jornal apresentou sobre os problemas político-culturais da Argentina, do México, da Espanha e do Brasil, enfatizando, no caso brasileiro, os embates políticos do PCB, exaltando Luis Carlos Prestes, e publicando textos de e sobre o escritor Jorge Amado.

A revista mensal Gaceta de Chile (1955-1956) foi dirigida pelo poeta chileno Pablo Neruda, teve apenas cinco números e aproxima-se de um modelo de publica?ao voltada para um público mais especializado. No editorial do seu primeiro número afirmou ser uma revista voltada para as Artes e as Letras e aberta á reflexao sobre as atividades e os problemas de cria?ao dos artistas e homens da cultura do Chile, sem exclusóes de tendencias ideologicas ou estéticas, declarando-se aberta a colabora?ao de intelectuais estrangeiros com o objetivo de aprimorar a cultura nacional. A produ?ao literária da época foi o tema privilegiado e recebeu a colabora?ao de escritores chilenos como Fernando Santiván (Premio Nacional de Literatura), Luis Enrique Deláno, o poeta Julio Moncada, Pablo Neruda juntamente com o brasileiro Jorge Amado e outros intelectuais europeus e soviéticos.

O material da imprensa do PCCh ainda encontra-se em fase de levantamento e análise, mas isso nao impede a realiza?ao de algumas observa?óes e, dentre elas, a de que sua imprensa indica a existencia de uma proposta clara de política cultural do Partido entre 1935 e 1956. Afirmamos isso, inicialmente, porque, por exemplo, o jornal El Siglo, ao divulgar programa?ao, críticas de arte e, ao mesmo tempo, publicar manifestos e convocatórias para reunióes e atos organizados por sindicatos de artistas de diferentes áreas, assumiu um papel que ultrapassou o de incentivo á consolida?ao de formas estéticas, mas que também procurou agregar a "classe" artística em torno de projetos políticos concretos, muitos deles efetivados e relevantes no cenário cultural local, como foi o caso do Teatro Experimental da UCHILE. Nesse sentido a no?ao de circuito cultural se amplia, pois estabelece uma rela?ao entre as discussóes realizadas no jornal e as a?óes efetivadas pelos artistas e/ou militantes nas institui?óes de arte chilena.

Já a revista Gaceta de Chile, representa uma iniciativa próxima ás revistas culturais brasileiras, porém nos resta ainda entender se com ela Pablo Neruda procurou reiterar, problematizar ou se contrapor ás propostas do PCCh para o campo artístico cultural.

Considerares finais

As revistas Seiva e Fundamentos sao apenas dois exemplos de a?óes culturais regionais realizadas por militantes do PCB e seus simpatizantes que buscaram estabelecer um diálogo nacional com o ideário do MCI para o campo cultural. Porém, nenhum desses veículos, ao expressar diretrizes para a questao artística, revela orienta?óes explícitas do PCB nesse sentido. Contrapondo essa percep?ao a constata?óes similares alcan?adas a partir de outros periódicos, tendemos a acreditar que entre 1935 e 1956, o partido tratou a questao artístico-cultural de forma genérica ou estritamente orientada pelo MCI (no período jdanovista) e, apesar de ter atraído muitos artistas preocupados com os problemas sociais brasileiros e de ter patrocinado algumas revistas importantes, nao apresentou planos, diretrizes e estratégias para a a?ao cultural dos militantes. Ao contrário, muitas vezes restringiu o espa?o político de importantes intelectuais e artistas.

Em rela?ao ao PCCh, partimos do pressuposto de que mesmo quando existiu uma formula?ao oficial proveniente da dire?ao central do partido, nao houve apenas uma única política cultural. Ao contrário, como nos mostrou Mariana Villa?a em sua tese sobre as polícias culturais desenvolvidas no Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficos (ICAIC), os campos cultural e artístico, quando incididos por projetos políticos devido a iniciativas de um governo ou de um partido, eles resultam de, ou pressupóem, "negocia?óes, disputa de poder, discussao de projetos e tensóes que precisam ser desvendadas para melhor compreendermos os objetivos e interesses em jogo".30 Desta forma, mesmo que o PCCh, por um lado, procurasse desenvolver a proposta político-cultural do MCI, o realismo-socialista, e adaptá-la á realidade artístico-cultural de seu país, por outro lado, havia os artistas e intelectuais do partido que, apesar de comunistas, defendiam outros padróes estéticos e de diretrizes distintas ao realismo-socialista e que

30 VILLAQA, Mariana Martins. O Instituto Cubano de Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC) e

política cultural em Cuba (1959-1991). Tese de Doutorado. Departamento de História Social. FFLCH/USP, 2006. p. 2

precisaram ser enfrentadas a fim de garantir a hegemonia da dire?ao partidária no campo cultural.

Recibido: 23 agosto 2010 Aceptado, 3 de noviembre 2010

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